sábado, outubro 29, 2005

AFECTOS VIRTUAIS

Andar a passear na blogosfera faz-me chegar a uma simples conclusão: é que nós somos mesmo um animal social! Precisamos de nos relacionar com os outros como de nos alimentarmos e de respirar. A necessidade de contacto humano é um imperativo biológico indispensável à vida.

Mas aqui surge um senão. É que os contactos na blogosfera são virtuais, e levanta-se a tão polémica questão: será que isto de estar a falar com as pessoas através de uma máqina é a mesma coisa que falar com elas cara a cara? Será que isto satisfaz a nossa necessidade de relacionamento? Ou será que é apenas uma imitação pobre do verdadeiro contacto humano, aquele de que realmente precisamos? Mais, não estaremos a caminhar para uma sociedade verdadeiramente plástica, em que a distância nos esmaga diariamente, em que valores como o individualismo e o isolamento são estimulados e encorajados, e a solidão se impõe e alastra como um cancro?

Partilho destas preocupações, no entanto não posso deixar de salientar um aspecto que me parece interessante: é que estes contactos virtuais são tudo menos frios, secos, distantes e desprovidos de afecto. Isto pelo menos é o que tenho vindo a verificar através da experiência. É claro que nada substitui um olhar, um sorriso, um gesto, um piscar de olhos, nada substitui o toque, o calor de uma boa conversa e de uma relação de corpo presente. Esta pelo menos é a minha opinião. Mas aqui, na blogosfera, também se trocam afectos e se partilham emoções, e se não podemos ver a cara dos nossos interlocutores e ouvir-lhes a voz, podemos adivinhar estados de alma e intuir sentimentos. Como não sei, mas que podemos, podemos.

Pois senão vejamos: visitamos blogues alheios, lemos um pouco, apreciamos as imagens quando as há, e logo decidimos: este é uma seca, este tem piada, este é lindo, este é amoroso, este é uma verdadeira estopada. Voltamos aos que mais gostamos ou aos que nos despertaram qualquer coisa, às vezes nem sabemos bem o quê. Mas também podemos ler opiniões contrárias à nossa e apreciar o espírito crítico, ou tão somente o carisma das ideias. Ou podemos deleitar-nos com a afectividade que transborda algures, ou com a ternura que de repente se desenha à nossa frente com uma simples palavra ou numa imagem. E vibramos, mais ou menos, com o que vamos encontrando. Senão, porque perderíamos tempo nisto?

Isto tudo com a vantagem de as pessoas se revelarem de uma forma que tavez não ousassem se tivessem de dar a cara. O anonimato e a distância pode trazer (e traz) uma espontaneidade e uma frontalidade que na maioria dos casos não adoptamos nas nossas relações diárias. Isto é, as pessoas sentem-se protegias pela virtualidade, estão-se nas tintas para o que pensem delas, e dizem o que lhes dá na gana. Sem medo, nem censura, simplesmente mostram o que são (ou não, claro, também há aqueles para quem o ilusionismo da alma é o verdadeiro motor da viagem).

E depois quando viajo pela blogosfera ocorre-me outro pensamento: é que andamos mesmo carentes de contactos calorosos e afectivos! Isto tudo adivinho pela forma como as pessoas se expõem, como partilham emoções, como seduzem e se deixam seduzir pelas palavras de pessoas que na maioria das vezes não conhecem de lado nenhum, mas que assumem um papel importante no seu espectro relacional, de um momento para o outro. E isto faz-me pensar que se calhar os contactos reais, as relações do nosso dia a dia, as amizades e os nossos conhecimentos, não andam a desempenhar o seu papel à altura. Toda a gente se queixa que não tem tempo para os amigos, e de alguma forma esta realidade deixa-nos profundamente insatisfeitos, carentes e receptivos a estas viagens. Porque é muito mais fácil arranjar tempo para se estar sentado em frente do computador (não há dúvida!)

Decididamente, esta coisa das relações virtuais tem coisas boas e más, como tudo na vida. O segredo está em aproveitar as boas, que as há. E não deixar que estas substituam as outras, muito mais importantes, apesar de tudo, para o nosso equilíbrio e satisfação pessoais.

4 comentários:

papu disse...

Outro para ti :)

papu disse...

Oh, Ana, podes esticar-te à vontade! ;)

É q as tuas palavras fazem-me tão bem...

Sabes que sinto o mesmo, não é? Nem preciso de dizê-lo.

Também eu me sinto mais perto de tanta gente que deixei em Portugal, apesar de os contactos por mail não substituirem o face to face e nem serem assim tantos... mas é assim uma sensação estranha, qd estamos longe é como se trouxéssemos os amigos cá dentro do peito... tu entendes-me, não é?

E dp tb eu comunico mti mais com eles do q qd estava lá... até há pessoas com quem não comunicava quase nada e agora de repente a comunicação instalou-se...

E dp há as pessoas q "conheci" aqui na blogosfera... é calro q este conheci é diferente, o teu marido tem razão em espantar-se, realmente não nos conhecemos de lado nenhum mas... é como se conhecessemos, não é? Outro dia tb escrevi isto a outra pessoa q conheci aqui... e é bom, sabes? Fiquei comovida por me chamares de amiga. Gostei. Claro q sabes mais de mim do q eu de ti (até começares a escrever um blog!) mas também sinto que és especial!

Há outra coisa, também, que favorece estas amizades: é q aqui não precisamos de lidar com as partes menos boas de cada um, ou seja, com aqueles defeitos q não suportamos nos nossos amigoa (todos os temos). É q uma relação para amadurecer tem de passar por isso, não é?

Um beijo grande, minha amiga!
(tb me estiquei um bocado...)

Pim disse...

De facto, não há nada como encontrar o equilíbrio nestas coisas. Nos últimos anos fui descobrindo muita gente boa e interessante no universo, digamos assim, virtual. Nunca esquecendo, pois claro, os amigos reais. Reparo, agora, que a utilização dos termos virtuais e reais é pouco lógica. Afinal, quantas pessoas conhecemos pessoalmente e que nunca passam de algo virtual e quantas conhecemos, por exemplo, na blogosfera e são tão reais nos afectos, na sinceridade, na amizade? A fronteira parece-me muito ténue entre estes dois mundos... Cada vez mais.

Por isso, muitos beijinhos pá papu e família, tão longe e tão perto. E já agora, beijokas grandes para todos(as) os(as) outros(as)***
;)

papu disse...

Obrigada, Pim. Também concordo contigo, há muita gente real que mais parece virtual... Obrigada pelo carinho. Beijokas também :)