terça-feira, fevereiro 28, 2006

OLHA QUE COISA MAIS LINDA


É verdade, um pãozinho, alentejaninho, deliciosinho, hum hum hum!
E mais deliciosa ainda vai ser a açorda alentejana que eu vou jantar! Eheh...
E tudo graças à minha amiga Graciete, que é uma querida e me trouxe esta preciosidade... Muitos beijinhos! Estou desejosa de te rever! :)
...
Quando começo a picar os coentros, até formarem uma pasta, misturados com o sal, em cima da uma tábua e com o auxílio de uma faca, porque aqui não tenho gral, já não estou aqui. O cheiro picante e familiar entrou-me pelas narinas e transpostou-me para longe, muito longe, directamente para o passado.

Para a cozinha grande e quente da minha avó.
Em cima da mesa de pedra está um gral cheio de coentros, e alguém está a pisá-los, com força, e o cheiro invade todo o espaço. As panelas fumegam ao lume, e o pão aguarda em cima da tábua para ser cortado.

Depois vejo-me à mesa, a açorda a chegar dentro de uma tijela enorme de vidro, e o cheiro dos coentros, sempre o mesmo cheiro, o sabor do pão encharcado no caldo quente da sopa. Uma delícia.

Vejo o meu avô, ao meu lado, comia sempre a fruta antes das refeições. E nós acompanhávamos esse hábito, e digo-vos, sabia muito melhor, começar o almoço pela fruta.

Vejo a minha avó a trazer um prato de figos para a mesa. Figos do Pinote...

Se fechar os olhos outra vez estou em casa da Natália, vejo o Aníbal na cozinha de volta dos tachos e das panelas, e no ar mais uma vez o cheiro dos coentros, e de outras coisas deliciosas que ele cozinhava. Na sua casa, era ele o cozinheiro. Nas suas mãos, a comida ganhava outro sabor, outro calor, único.

Lembro-me da Feira do Artesanato de Estremoz, e da 1ª Cozinha dos Ganhões. Lembro-me do calor tórrido que ali passei, debaixo de uma das barracas da feira (47ºC à sombra, meus filhos, não era brincadeira), da sensação de estar a assar às 2 da tarde, do duche de água quase fria que tomava antes de me deitar, da impossibilidade de dormir por causa do calor e das melgas.

E lembro-me das grandes tijelas de barro, cheias até acima, que nos traziam para a mesa, a fumegar, sopa de cação, açorda, sopa da panela... E nós devorávamos tudo, estávamos naquela idade em que o estômago cresce e parece que não tem fim... As mesas ficavam debaixo de um toldo de palhinhas, e o fresco da noite batia-nos na cara, numa carícia, era a única hora em que o calor dava tréguas e podíamos enfim respirar de alívio. E que fome que tínhamos...

E tudo por causa deste cheiro dos coentros, que sempre me faz recuar no tempo e saborear saudades em cada colherada desta açorda. Claro que a minha não sabe tão bem como as outras, as que comi há tanto tempo, as que ainda como às vezes em casa da minha mãe, mas dá para matá-las. Às saudades.

2 comentários:

Paulo Silva disse...

Passei para deixar um abraço
e felicidades.

Mónica disse...

também tenho saudades! e do pão de mafra!