quarta-feira, março 01, 2006

QUARTA FEIRA DE LEITURA

Mia Couto, Cada Homem é Uma Raça

Mia Couto é outro exemplo da riqueza da escrita de língua portuguesa. A sua prosa é mágica e poética. Ele faz com as palavras a mesma coisa que as crianças fazem com um bocado de barro ou plasticina: cria, inova, inventa. Mia Couto é um inventor de palavras. Em cada livro encontramos sempre vários neologismos da sua autoria. O significado dessas novas palavras é facilmente assimilado pelo leitor, porque geralmente são formadas a partir de palavras já existentes. É como se ele brincasse com os múltiplos significados das palavras, encaixando-os como num puzzle, para criar uma nova figura de significados, diferente da original. Ele faz magia: transforma as palavras existentes, associa-as e cria algo novo, que transcende a realidade, a enriquece e a renova. Estou a lembrar-me de um jogo de palavras, num dos seus livros, acerca dos "animais" e "animenos". E muitos outros exemplos poderiam ser dados, pena não ter os livros dele aqui comigo, agora. Ele revela significados ocultos nas palavras habituais, e depois brinca com esses significados, associa-os a outros, num jogo que nos deixa maravilhados. A sua escrita é, ao mesmo tempo, musical, ritmada, cadenciada; as palavras ganham cor, ganham vida, ganham movimento nas suas mãos. É como se ele pintasse um quadro fantástico com as palavras, um quadro cheio de novas cores, texturas e formas, de uma beleza incomparável.

Já li quase todos os livros dele, e resolvi deixar-vos a sugestão deste porque foi o primeiro que li. Ainda me lembro bem do momento em que isso aconteceu. Devia ter 19 ou 20 anos, e estava no Porto, na sede de um pequeno partido a que pertencia na altura. Estávamos à espera de pessoal de Santarém, do Algarve, da Marinha Grande, de Aveiro, e já não me lembro mais de onde, para a nossa reunião da associação juvenil. As pessoas estavam bastante atrasadas (como era um velho hábito) e eu estava farta de esperar. Havia uma mesa com livros ao meu lado e um amigo sugeriu-me a leitura de um deles, no meio de algumas brincadeiras: "pois, e depois dizem que a juventude não lê, pá! Lê qualquer coisa, olha, esse livro é bastante bom, esse mesmo, sim!"; eu ri-me, e como gostava bastante de ler, peguei no livro. Lembro-me da capa colorida, lembro-me de o abrir, e não me lembro de mais nada. Sei que mergulhei de cabeça e esqueci-me de onde estava. Acho que depois tiveram de me "arrancar" da leitura...

Não descansei enquanto não o comprei, e desde então não parei de ler este grande escritor-poeta-inventor da língua.

3 comentários:

nana disse...

também gosto muito da escrita de Mia Couto.
;)
Bom restinho de Feriado

Sofia Pinheiro disse...

Também gosto. Boa escolha!

Camarelli disse...

sim! gosto do mia couto, este acho que foi o primeiro livro que li dele e desde então já li uns quantos. :)