quarta-feira, maio 10, 2006

E PORQUE HOJE É QUARTA

retomamos os velhos hábitos de leitura:
José Eduardo Agualusa, O Ano Em Que Zumbi Tomou o Rio


Um pequeno (grande) homem que morre e ressuscita, e que vive no desejo de se libertar do peso do corpo. Ele vai ser testemunha de um acontecimento histórico importantíssimo. Com as suas palavras vai levar ao resto do mundo o seu olhar sempre vivo e perspicaz (esta parte imaginei, na verdade ele apenas escreve para um jornal português) sobre a maior revolta negra na história do Brasil, desde a escravatura. Mas esta não é uma revolta só dos negros. É a revolta de todos os que vivem marginalizados no seu próprio país, de todos os que habitam o submundo das favelas brasileiras e não têm hipótese de se libertar da austera estigmatização social, numa sociedade onde não existe lugar para eles, numa sociedade que, paradoxalmente, não se considera racista nem preconceituosa. Uma mulher triste e solitária, que se diverte a atormentar os homens com as suas obras de arte pouco convencionais sobre a natureza feminina, e que abre a porta para um desconhecido no meio da noite, a porta da rua e a do coração, começando assim uma "estranha estória de amor". Um homem que em tempos trabalhou para o Ministério da Segurança de Estado de Angola, e vive na tentativa desesperada de fugir da própria memória e dos velhos fantasmas que a habitam, que vende armas aos traficantes das favelas. Um velho delegado de polícia, honesto, inimigo da corrupção, que a tudo assiste, impotente, sem poder fazer nada contra a escalada sucessiva de violência, e que no fim decide pegar nas armas, disposto a dar o seu sangue numa guerra perdida mas que já é sua. Um outro homem, traficante, um bandido com preocupações sociais e alguma consciência política, que começa uma revolução. Ele decide parar de pagar a cumplicidade aos policiais corruptos que assim fecham os olhos ao negócio do tráfico. E é a partir desta decisão que os acontecimentos se vão suceder, numa espiral incontrolável. É a história desta revolução, que desce das favelas ao asfalto, que é contada neste livro. Uma batalha que, mesmo derrotada, será uma vitória. E que deixará marcas na memória e estrutura sociais do país.

Cenário dramático e impossível? Eu diria realista, dramático sem dúvida. É uma metáfora, um aviso, quase uma premonição. A revolta, as armas, o tráfico, o estado de tensão, de colapso sociais, são a realidade do mundo das favelas brasileiras. A vida ali já é uma guerra. E se os governantes não tomarem medidas concretas, a bomba pode explodir.

2 comentários:

Anónimo disse...

Um beijo Papu, um bom fim de semana, levo-te comigo no meu coração. INTEIRINHA! Não tens duvidas pois nao?

Anónimo disse...

Hi! Just want to say what a nice site. Bye, see you soon.
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