quinta-feira, fevereiro 02, 2006

DEVO ESTAR A ENLOUQUECER (SÓ PODE!)


Uma gaja, depois de emprenhar, perde completamente a sanidade mental e o bom senso. Senão vejamos:
  • o rebento nasce. A gaja fica completamente agarrada àquela coisinha fofa e minúscula, que não lhe dá descanso as 24 horas do dia. Nos primeiros meses passa noites em claro, mal tem tempo para ir à casa de banho, não se penteia e anda de pijama o dia todo. Passa o dia a mudar fraldas, dar mama, ou então biberão, o que acarreta mais umas quantas actividades diárias: lavar, esterilizar, preparar o leite... Não sabe o que se passa no mundo nem no país, mas se lhe perguntarem quantas medidas de leite em pó são necessárias para preparar 270 ml de leite ela tem a resposta na ponta da língua.

  • o rebento passa os dias a dormir, a mamar, a sorrir, a berrar a plenos pulmões, e a gaja passa o dia a fazer gugu-dádá, ou a cantar canções de embalar, ou a fazer massagens na barriga, ou a dar em maluca sem saber o que há-de fazer, a tentar adivinhar se o choro é por causa das cólicas ou da fome.

  • e vem o dia em que alguém de alma boa e nobre coração se compadece do estado de desleixo e cansaço visíveis da gaja (a mãe, ou a sogra, ou uma amiga ou vizinha) e diz: vá, vai lá ao cinema com o teu marido, que eu fico com ele! Abençoada! E lá vão eles os dois, a gaja mais o seu gajo, enfiarem-se numa sala às escuras, para ver o filme que há tanto tempo queriam ver, ou não, também podem aproveitar a escuridão para uns amassos, como no tempo do liceu.

  • 1º sinal de alarme: mal saem da porta, entram no carro (ou no autocarro, para o caso não interessa muito), diz ela com a ansiedade mal escondida na voz: "e se ligássemos para casa?", ao que ele responde: "para quê?", "é que agora é que me lembrei que me esqueci de...", o que vem a seguir não interessa, porque é quase sempre uma desculpa esfarrapada, o que a gaja está é a passar-se, uns minutos sem o seu rebento e a garra da angústia na garganta, lá telefona, "então está tudo bem? Ele já bebeu o leite todo? Ah, já está a dormir? E não chorou?"; e depois de desligar, meio envergonhada, sorri para o gajo, "coitadinho, adormeceu ao colo da minha mãe...", assim como que a desculpar-se.

  • bom. O rebento cresce... começa a tornar-se autónomo, e a gaja pouco a pouco começa a ter outra vez uma vida mais normal, e o que acontece? Um belo dia ela olha para o seu gajo e murmura-lhe ao ouvido: "sabes, queria ter outro bebé"... ao que o gajo fecha os olhos e sorri. "estava mesmo a pensar nisso agora...", e lá se lançam para debaixo dos lençóis, esquecidos por momentos e completamente das noites sem dormir, das birras, dos choros, das cólicas, dos cocós, do cheiro a leite azedo...

  • e lá começa a saga de novo! Novo rebento, o mesmo filme! Com a diferença que agora são dois e o trabalho é a dobrar! Às tantas a gaja já nem se lembra do que é ir ao cinema, muito menos jantar fora só com o seu gajo, muito menos trocar dois dedos de conversa de jeito com alguém com idade superior a 3 anos! E o filme vai rodar mais 3 anos ainda!

  • e quando o nosso segundo rebento começa a dar ares de crescido, e a gritar enraivecido: "ê já nã xou bebé!!!", apesar de ainda se agarrar às saias da mãe e não a deixar fazer nada o santo dia, quando se começa a vislumbrar no horizonte tempos de mais calma, paz, autonomia das criancinhas, finalmente começar a pensar em si própria, a fazer planos para o futuro, qualquer dia já podem ficar a dormir na casa de um amigo, já se vestem e comem sozinhos, já não precisam que lhes limpe o rabo nem que ande atrás deles a acender as luzes, já não precisam dos meus braços constantemente nem dos meus cabelos para adormecerem, já posso ir trabalhar e quem sabe, uma noite, ao cinema, jantar fora, dar um pezinho de dança, descontrair...

  • eis senão quando, lá do fundo das suas entranhas, a gaja começa a sentir umas saudades estranhas daquela coisa fofa e minúscula chamada recém nascido, uma nostalgia imensa da barriga a arredondar e a ganhar volume, uma vontade enorme de sentir as mamas a rebentar em leite outra vez, e começa a sonhar alto, é pá, nunca mais vou sentir aquele cheirinho a bebé nos meus braços... só mais uma vez, vá lá...

  • e um belo dia diz para o seu gajo (assim pertinho do ouvido): "sabes, queria tanto ter outro bebé..."

  • só pode estar a dar em doida, não acham???

O que vale é que isto é só um delírio do meu instinto maternal (espero!)

6 comentários:

Ana G disse...

ah não é um delirio, não :)

Mónica disse...

gosto de emprenhar mas detesto parir! cruel diz o caetano... assim não dá pra comentar com esta voz de fundo a baralhar-me os sentidos...

Tilangtang disse...

então não é que ultimamente tenho sido uma gaja insana? Deve ser natural esta coisa de querer voltar a viver tudo outra vez.

papu disse...

Bem, falando sério (preferia não falar...:)

A vontade de ter outro filho é real, mas a vontade de trabalhar e de "fechar a loja" também é. Estou dividida! Antes de o Diogo nascer queria ter outro, depois de ele nascer a vontade passou-me... Apesar de ter ficado sempre lá no fundo, adormecida, essa vontade sucumbiu à realidade: agora que eles já estão crescidos, não me apetece voltar para trás. Voltar a viver aqueles momentos em q somos imprescindíveis para o bebé, as fraldas, as noites sem dormir... enfim, aquelas coisas todas q falei no post.

Mas de há uns dias para cá (sim, são dias!) não sei porquê, essa vontade acordou... Dou por mim a sonhar, a imaginar, a fantasiar... a delirar, portanto.

Mas o outro lado da balança também pesa: quero mesmo trabalhar, quero mesmo ter um bocado de liberdade, quero mesmo descansar um pouco desta coisa de ser mãe a tempo inteiro (se bem q mãe é uma condição permanente, claro, mas o q eu quero dizer é... ser mãe a tempo inteiro de um bebé!)

Dp começo a pensar q já tenho 35 anos e tenho de começar a trabalhar... ter outro filho ia adiar isso em mais 1 ano ou 2... mas dp tb penso q para ter outro filho, qq dia já estou velha... enfim, é uma contradição!

E ainda por cima, para complicar mais a decisão, aqui não é como aí, em q uma pessoa para ter um filho começa a fazer contas á vida... Aqui o governo ajuda as famílias e mais um filho equivale a mais ajuda monetária... até provavelmente iríamos conseguir uma casa do Council, q é coisa de q ainda estamos à espera (e continuaremos à espera, pq não temos prioridade em relação a outras pessoas q estão em situação pior...)
mas é claro q eu me recuso a ter um filho por esses motivos!

enfim, acho q foi mesmo só um devaneio... se se vai concretizar ou não, só o futuro o dirá. Mas penso q para já, já, não.

(o pai é q ficou todo entusiasmado com a ideia... pois...)

CLS disse...

Grandes dilemas! É tão duro sentirmos, às vezes, uns pequenos sentimentos de culpa por acharmos que estamos a contrariar a nossa natureza, quando pensamos que queremos ser Mães mas também queremos (ou temos) que trabalhar. Também passo por isso, e ainda só tenho uma, com muita vontade de ter um segundo e sei que terei muita vontade de ter um terceiro, mas que será economicamente difícil se eu deixar de trabalhar. Felicidades aí em Londres.

papu disse...

Olá Cls. Bem vinda :)