Terça feira é dia de aulas de inglês. As minhas colegas (somos só mulheres) são muito divertidas, estamos sempre a rir-nos umas com as outras. Há uma brasileira, três colombianas, duas chinesas e duas japonesas, uma nigeriana e eu (acho que não falhei ninguém).
Ora hoje tivémos de fazer de juízes de um caso complicado de divórcio. Foi engraçado porque às tantas estávamos todas aos gritos (de entusiasmo), discordávamos umas das outras e queríamos a todo o custo expor o nosso ponto de vista. O que resultou um bocado frustrante, no meu caso, pois é realmente difícil querer dizer tanta coisa e não ter as palavras suficientes...
O caso era o de um casal com 10 anos de casamento, que após o nascimento da filha, há 4 anos, tinha começado a desentender-se e estava agora em processo de divórcio. A mulher sempre trabalhara, fizera uma carreira brilhante, ganhava bem e era ela que sustentava a família desde que a criança nascera. O pai trabalhava numa livraria quando nasceu a bebé, e desde essa altura deixara de trabalhar, tendo ficado com a bebé em casa. Neste momento estava a escrever um livro.
A mãe exigia a custódia total da filha e a casa de família, e propunha que se vendesse a casa de praia e se dividisse o dinheiro entre os dois. Não estava disposta a dar ao ex-marido nem um tostão a mais. O pai queria a custódia total da filha, queria a casa da praia para viver com a miúda e poder acabar o seu livro, e queria que se vendesse a casa de família e que se dividisse o dinheiro. Exigia uma pensão de mil libras por mês e uma indeminização de 25 mil libras por ter se sacrificado e ficado em casa com a filha em vez de trabalhar. Ah! E ambos queriam ficar também com o cão!
E nós tinhamos que decidir a questão! Estão a ver?
A primeira coisa que pensei é que isto é um caso bem ilustrativo da realidade. Normalmente, quando há um divórcio, as pessoas só pensam nelas mesmas e nos seus interesses e esquecem-se de quem mais sofre (as crianças). Como pais, esta atitude é para mim, imperdoável.
E depois há outra coisa curiosa neste caso, é que geralmente é a mãe que sacrifica a carreira em nome dos filhos, e não o pai. Às vezes quando é a mulher a fazer isso custa-nos menos a encaixar que o pai tenha a obrigação de pagar uma pensão. Mas quando é o homem, muita gente pensa: então e agora a mulher tem de sustentar o fulano?
Bom. Mil libras são 300 contos, talvez o homem se tenha passado um bocado. Mas o que é facto é que ele ficou em casa a tomar conta da filha, o que qualquer mãe (e qualquer pai!) sabe (ou devia saber) que é dos trabalhos mais duros e mais cansativos (apesar de compensador) que existem. E a verdade é que se não fosse assim eles teriam de ter pago a alguém para o fazer. Por isso acho que sim, que neste caso o pai deveria ter direito a alguma compensação monetária.
Quanto à guarda da criança, por aqui o conceito de guarda conjunta é uma autêntica revolução (estou a referir-me ao grupo, como é evidente). A esmagadora maioria achava que a criança devia ficar com a mãe! Mas porque carga de água, pergunto eu? Então uma criança que passa os primeiros anos de vida a ser cuidada pelo pai, e que mesmo depois de entrar para a escola é com o pai que passa a maior parte do tempo (já que a mãe trabalha o dia todo), porque raio é que deve ficar com a mãe? Os argumentos são praticamente sempre os mesmos: para uma criança, principalmente uma rapariga, a mãe é muito mais importante!
Parece-me isto mais uma ideia feita do que uma evidência. Ninguém nega a importância da mãe, nem eu. Aliás, qualquer criança precisa de ambos os pais, e numa idade mais precoce precisará muito mais da mãe, seguramente. Mas daí a fazer disso uma regra sem excepção e a passar por cima de outras circunstâncias não menos importantes para a criança já é um erro. Então e a violência que seria para uma criança de 4 anos que sempre esteve com o pai passar a vê-lo só de 15 em 15 dias ao fim de semana?
O outro argumento para não aceitarem a guarda conjunta era o de que isso de a criança viver uma semana aqui e outra ali dá uma grande instabilidade, e a estabilidade é muito importante. Pois é, mas que tipo de estabilidade? É verdade que o grande senão da guarda conjunta é precisamente esse: o facto de a criança não ter o seu espaço estável, e andar sempre a saltitar de casa para casa. Isso realmente pode ser um factor de instabilidade importante. Mas mais nefasta é a instabilidade emocional provocada por não conviver com um dos pais. Para ser feliz e se sentir bem a criança precisa de ambos os pais, e de partilhar com eles o seu dia a dia. Pior do que andar a saltitar de casa para casa é perder o contacto com alguém muito importante para ela e que ama muito. Acho que isto é tão óbvio que só um cego é que não vê.
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