O David está a estudar o grande incêndio de Londres na escola. E vai daí, a escola organizou uma visita ao Museu de Londres a propósito do tema. Ele anda todo entusiasmado com a ideia! E nós também, claro. Acho mesmo fundamental que eles saiam, e estas visitas, além de serem importantes para a aprendizagem dos conhecimentos, são também uma oportunidade para eles conhecerem o mundo para lá do perímetro da escola. É uma experiência nova, estimulante, que os motivará sem dúvida para o tema e que os despertará para outros assuntos. As sensações de aventura e descoberta também estarão presentes, e acredito que será um dia bastante enriquecedor, muito mais do que seria se passado na escola, a falar dos mesmos temas, sentados nas secretárias.
Então porque raio é que tenho um nó na garganta desde que soube da visita, podem explicar-me, por favor? Porque é que o meu coração fica apertadinho cada vez que penso nisso, porque é que a angústia me invade de repente, mesmo contra a minha vontade, porque é que os pensamentos alarmantes se multiplicam na minha cabeça?
Pronto, eu confesso: sou mesmo mãe galinha! (Galíssima, se existisse esta palavra!) Neste caso, é mais uma mãe tipo Marlin (Marlin Mum): sempre à espreita das desgraças e sempre com o medo colado à boca do estômago. Sempre a avistar perigos hipotéticos no horizonte, (e às vezes perigos mais imaginários que reais, confesso também!) sempre de olho posto nas suas crias, sempre vigilante, com três faróis acesos e luzes de todas as cores a piscar!
Bem, claro que isto vai normalizando, à medida que a cria vai crescendo, e vai assumindo proporções mais normais (digo eu...). No caso do David, é óbvio que já não me angustiam nem me preocupam as mesmas coisas, nem com a mesma intensidade, do que com o Diogo. Mas de vez em quando lá dispara uma sensação de aperto no peito, uma falta de ar, uma descarga de adrenalina, motivadas quase sempre por algum sinal de perigo (imaginário ou real, como já disse!).
Quando vi o Nemo, identifiquei-me bastante com todos aqueles medos e cuidados do papá Marlin (mas qual pai ou mãe é que não se identifica?). A verdade é que os perigos espreitam de todos os lados, a verdade é que não temos controlo sobre eles, a verdade é que não podemos perder os nossos filhos de vista um segundo! Bem, mas depois eles crescem... e precisam de espaço! Precisam de se arriscar, precisam de andar pelos seus pés, precisam de se autonomizar! E nós não podemos ficar nessa posição de estar sempre de olho neles, como quando eles são bebés e começam a andar! Não podemos, temos mesmo de aprender a controlar esse medo. Que está lá, que não vai desaparecer, e vai acordar-nos a meio da noite em assombros de pesadelo, e deixar-nos a pele arrepiada e gelar-nos o sangue nas veias! Ele vai lá estar sempre, às vezes escondido, pronto a entrar em erupção como um vulcão adormecido. E nós não podemos sucumbir-lhe! Não nos podemos deixar arrastar pelo seu rio caudaloso!
É como aquela cena em que a Dóri e o Marlin estão dentro da baleia, e o Marlin teima em que vai acontecer uma desgraça, e quando a amiga lhe diz para se deixar ir agarra-se com todas as garras à língua da baleia e grita: "Como é que sabes? Como é que sabes que não vai acontecer nada de mal?!", ao que a Dóri responde, perplexa: "Não sei!!!" É assim, na vida: nós de facto não sabemos. Não sabemos o que vai acontecer, não podemos prever o futuro, mas temos de viver com isso. Viver e deixar viver. E viver significa tirar prazer da vida, correr riscos, aventurar-se, em suma, crescer, e nunca, nunca mas nunca deixar de fazer alguma coisa por medo.
É claro que isto não me tira o nó da graganta. É claro que o medo está lá, o medo irracional de perdê-los, a angústia que a consciência da separação acarreta (porque não podemos estar sempre em cima deles a protegê-los, não podemos e no fundo nem queremos). É claro que estas e outras situações sempre vão despertar esta ansiedade tremenda e primitiva. Mas eu já a conheço há muito tempo, é quase uma velha amiga. Pisco-lhe o olho, e iludo-a momentâneamente. E no segundo a seguir já não a sinto tão ameaçadora.
E sei que no dia do passeio, quando o for buscar à escola e o abraçar e ficar a ouvi-lo contar, com os olhos brilhantes, as peripécias do dia, vou estar a sorrir por dentro. E terei vencido mais uma batalha, calmamente e sem dramas. No fundo, é um caminho e uma aprendizagem que todos nós, pais e mães (e não só) temos de fazer nesta vida.
4 comentários:
Alex, querida, as tuas visitas são sempre óptimas, mas não precisas de justificar as tuas ausências. :)
Obrigada pelas tuas palavras. Elas também me batem sempre fundo :)
E olha, estou preocupada contigo. Já fui ao teu blog para aí umas 20 vezes e não consigo entender. Ainda por cima cortaste a comunicação. Acho que te vou mandar um mail.
Hum....
A mim só recordo o nevoeiro de Londres....
Esta entrada serve apenas para homenagear uma das minha personagens de cinema favoritas dos últimos tempos: a Dóris!!! Brutal a onda de esquecimento total, a toda a hora, a todo o instante, e, depois, ao mesmo tempo, tão certa na sua filosofia de vida, eheheheh!
P.S.: Ah, afinal esta entrada servia também para enviar um beixoooo grande para a papu e su família :))))
É verdade, Pim, a Dóri é demais! E afinal todos temos um lado dori e outro lado marlin... o segredo está em aprender as doses certas de um e de outro.
:)
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