sábado, abril 01, 2006

QUÉRACHÃO

- Chiu... Vamos ouvir a quérachão...
Dizia a minha avó, no silêncio e na escuridão do quarto.
Era assim que eu ouvia, que os meus ouvidos de criança ouviam, uma só palavra, quérachão, que horas são...
As badaladas do relógio de parede da sala, no andar de baixo, ecoavam no silêncio da casa.
E nós ficávamos a contá-las, baixinho.
- Duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez... já é muito tarde, querida, tens de dormir. Já são dez horas!
E dava-me um beijo escuro, e eu ainda murmurava:
- Deixa a luz da escada acesa...
E ficava a vê-la afastar-se pela nesga de luz que vinha da porta, os meus ouvidos ainda cheios do eco das badaladas da quérachão a rasgar o silêncio da noite.

Sem comentários: