domingo, julho 02, 2006

CASTIGOS

Não gosto da palavra, mas acho que vai ter de fazer parte do meu vocabulário mais assiduamente. E não do vocabulário falado, mas daquele mais prático, que se expressa nas atitudes.

Desde que estamos em Inglaterra, que tenho tentado abolir as palmadas. Não é que ache que não resultam ou que não devam ser aplicadas, já o expressei outras vezes, acho que uma boa palmada não faz mal a ninguém e em certas situações é mais eficaz do que trinta mil discursos ou castigos juntos. Mas estamos num país em que isso é prática ilegal, e eu acho que devemos adaptar-nos a essa realidade - não por ter medo de ir presa, mas sim por achar que para eles pode ser algo perturbante. Eles vão-se aperceber, mais tarde ou mais cedo - se é que o David não se apercebeu já - da realidade das leis daqui, e acho que pode ser bastante confuso para eles constatarem que os pais têm práticas contra a lei dentro de casa.

É claro que vai haver uma altura da vida em que eles próprios porão as leis e as regras em causa, e em que aprenderão que há sempre aquelas leis que foram feitas mesmo para não se cumprirem - mas tudo a seu tempo. Por enquanto eles são crianças e precisam de uma atitude de coerência e harmonia entre as atitudes dos pais e as da sociedade. E acho que isso é muito importante para a sua socialização.

É por isso que os castigos têm de entrar em cena. Não é que já não fizessem parte, mas agora tenho sentido mais a falta de algo que me ajude na imposição de regras. Sou daquelas pessoas um pouco deixa andar enquanto os miúdos são pequenos. Não sou rígida nas regras nem crio demasiadas expectativas. Acho que enquanto são pequenas as crianças têm, acima de tudo, de se sentirem seguras e amadas. Mas é claro que as regras são importantes, são mesmo muito importantes. E talvez eu esteja a sofrer as consequências de não ter estabelecido antes algumas delas com mais firmeza.

Por outro lado, também é complicado para eles. De repente, e sem perceberem bem porquê, comportamentos que antes eram toleráveis passam a ser inaceitáveis. Depois, no meu caso, com a agravante de ao mais pequeno - que ainda só tem 3 anos - serem permitidas coisas que ao mais velho já não são. Por exemplo, se quero ensinar ao David que comer com as mãos não é correcto- que apesar de já o ter feito, e de em certas ocasiões poder ser aceitável, não o é como regra - isso torna-se mais difícil se ao Diogo já for permitido. E podia dar inúmeros exemplos de outros comportamentos que, de certa forma, começam a incomodar-nos a partir de certa idade, por acharmos que eles já não têm idade para isso.

A partir de certa idade, também começa a ser-lhes exigido mais, como é natural. Se até certa altura nós fazemos tudo por eles porque ainda são bebés ou demasiado pequenos, chega um momento em que temos de puxar pela sua autonomia e pô-los a tomarem conta das suas coisas e de si próprios. Começarem a lavar-se sozinhos no banho, arrumarem os próprios brinquedos SEMPRE, não deixarem a roupa espalhada no chão quando se despem, não se esquecerem de puxar o autoclismo e de apagar as luzes, fazerem xixi DENTRO da sanita e não no chão nem na tábua, enfim, nunca mais acabava... Mas é preciso mesmo MUITA persistência. Porque, se há coisa que eles também desenvolvem com a idade, é uma capacidade fantástica de se AUSENTAREM, e não OUVIREM o que lhes dizemos. E repetimos uma, e duas, e três... e passamo-nos dos carretos. Falo por mim. É por aí que muitas vezes vêm os gritos. É que quando eu GRITO eles ouvem.

Cá em casa estamos, pois, em fase experimental de implementação de novas regras e de castigos para comportamentos indesejados. As novas regras prendem-se com o não ver tanta televisão e não jogar tanta x-box. Os castigos destinam-se a evitar gritos e palmadas quando os limites são ultrapassados. Os castigos, por enquanto, têm-se cingido a não os deixar jogar nem ver TV (apesar de já estarmos em fase de restrição, têm sido um complemento, porque também não quero que eles sintam que só não vêm TV e não jogam porque estão de castigo, quero que percebam que lhes faz mal passarem tanto tempo nessas actividades e que também é bom fazer outras coisas).

E o que eles se divertem a brincar!