ORA ENTÃO

aqui temos o primeiro post escrito em Portugal! Eh eh...

Chegados há dois dias, ainda não nos adaptámos bem aos ritmos lusitanos, principalmente à condução do lado direito da via (se bem que este não seja propriamente um habito luso... mas enfim). Mas estamos bem, sim senhor, a curtir o calor e o sol em grande.

Hoje fui pela primeira vez a um hipermercado comprar meia dúzia de coisas. Entrei no ambiente cheio de gente e de confusão de um desses centros comerciais de nova geração, e devo dizer que fiquei meio zonza. Não que em Londres não os haja, até maiores e mais barulhentos, mas passa-se bastante tempo sem que ponha os pés em nenhum. É que lá não existe esta mania doentia de acoplar mega centros comerciais aos hipermercados onde o pessoal vai às compras. Lá, para se ir a um "Colombo" ou a um "Forum Almada ou Montijo" têm de se percorrer uns bons quilómetros de zonas suburbanas.

Mas já me estou a perder. É que a razão principal de ter ficado meio zonza não é bem essa... e zonza também não é a palavra apropriada. Deveria chamar-lhe antes uma espécie de estranheza... e agora vocês vão-se rir, quando vos disser o motivo. O que estranho, acima de tudo, é ouvir falar português. Ir na rua ou noutro sítio qualquer a passar e ouvir português, a minha língua. Que coisa! Já há tanto tempo que só oiço inglês na rua, que já me habituei a passar e fechar os ouvidos para o ruído habitual provocado pelas vozes das pessoas. E de repente esse ruído desdobra-se de novo em sons familiares a que os meus ouvidos já se desacostumaram. É estranho. Muito estranho.

Depois entro no supermercado, vou para o lado dos iogurtes, e fico a olhar à procura do que quero e lembro-me de novo daquela sensação de chegar a um país novo e até no supermercado me sentir estrangeira. Procuramos com o olhar, mas não conhecemos quase marcas nenhumas. Fora algumas excepções, os produtos são-nos completos desconhecidos. Depois começamos a experimentar este e a provar aquele, e às tantas já dominamos todas as técnicas de compra e já sabemos de trás para a frente as prateleiras das bolachas e a dos produtos lácteos. Entretanto, vimos de férias, entramos no supermercado e deparamos novamente, numa perfeita sensação de dejà-vu, com prateleiras e prateleiras de produtos desconhecidos. Não, não foram as marcas que mudaram, mas os invólucros, as embalagens, e por mais que busquemos sinais dos antigos traços familiares, não os encontramos.

Mais estranho ainda, é sair de manhã, no dia seguinte ao da chegada, para ir cortar o cabelo, e estranhar o movimento à porta da escola e na pouco movimentada rua: dois guardas da GNR, umas dúzias de gatos pingados meio mal vestidos, umas câmaras de filmar e pessoal da equipa técnica. Olha, devem estar a fazer algum anúncio, pensei com os meus botões. Como não sabia onde raio era o cabeleireiro ainda fiquei para ali a falar ao telemóvel com a minha mãe, enquanto o pessoal se movimentava de um lado para o outro, e devo ser mesmo distraída, nem as caras dos miúdos à janela, de pescoço esticado, me chamaram a atenção. Lá entrei no cabeleireiro e percebi logo a agitação e o acontecimento do dia: estavam a filmar os Morangos com Açúcar! Uau, Alcochete está a ficar importante, pensei cá para mim. As moças do cabeleireiro gozavam que se fartavam com as cabeleiras despenteadas e com o ar seboso, de quem não toma banho há dias, dos actores, entre risos sarcásticos e tiradas irónicas. Quando saí, os GNR estavam a parar o trânsito (uns dois ou três carros) para poderem filmar a perseguição de dois carros, que davam voltas consecutivas ao quarteirão em velocidade pouco recomendável para um sítio tão pacato. Já uma pessoa não pode vir de férias para a terrinha descansada, caramba!, pensava eu, enquanto me ria para dentro, das cabeças esticadas de miúdos e graúdos que apreciavam o espectáculo das janelas abertas e curiosas.