terça-feira, setembro 05, 2006

ÚLTIMO DIA DE FÉRIAS


Por aqui, o verão já nos acena ao longe. Mas de vez em quando o sol ainda abre, e o céu tinge-se de azul, e então convencemo-nos de que vai voltar. Só que daí a pouco uma rajada de vento traz a corrida das nuvens cinzentas e brancas, e novamente o outono nos entra pela porta adentro.

Para mim o fim das férias significa essencilamente o regresso às rotinas. Eu nunca me dei bem com as rotinas. Lembro-me de quando os meus filhos nasceram, eu estar bem ciente da importância de manter uma rotina diária, que os ajudasse a definir o seu espaço de segurança e conforto afectivos. Mas os meus filhos nunca me permitiram isso (ou será que fui eu?) Nunca havia dois dias iguais. Até as horas das refeições eram inconstantes! Quando mamavam, às vezes ficavam mais de uma hora na mama, porque adormeciam a meio. O Diogo mamava tão lentamente que às vezes exasperava, porque queria fazer mais alguma coisa do que estar a dar-lhe de mamar horas seguidas. Os banhos também nunca eram à mesma hora. Era sempre o ritmo deles que imperava, e esse ritmo não obedecia de modo nenhum a um padrão de rotina.

Às vezes penso que a rotina não existe na natureza, que é uma invenção nossa, para assim trazermos segurança e tranquilidade para as nossas vidas. Somos nós, com a mania de ordenar o mundo por categorias, acontecimentos, mapas e minutos que construímos esta sequência lógica que é o tempo e que nos orienta, que nos dá norte. Sem ele ficaríamos perdidos no meio do caos e do nada. É a nossa necessidade de arrumar tudo em prateleiras, de catalogar, de rotular, de definir, de sistematizar...

Mas como é que se arruma uma vida? (Sim, Alex, como ?) Da mesma maneira que se arruma uma casa? Não, não sei fazer isso. E acabo sempre por viver no meio da desordem e do caos. Não é que não sinta falta da rotina. Não é que goste de viver em estado caótico. Não gosto. E muitas vezes dou por mim a desejar a calma e a paz que a rotina acaba por trazer aos dias. A calma e a tranquilidade. Para dizer a verdade, quanto mais os anos passam, mais sinto falta dessa paz. Quando era adolescente detestava a rotina com todas as forças da minha alma. Achava que nunca iria conseguir fazer a mesma coisa todos os dias. Achava detestável que alguém conseguisse. Que alguém o fizesse. Hoje dou por mim a sentir falta da estabilidade que uma certa ordem nos acontecimentos e nas acções traz. Talvez esteja a ficar velha, quem sabe?

Mas, apesar de o desejar, não o consigo. Esforço-me, mas sinto sempre que estou a lutar contra a minha natureza. E em férias, então, acabo por dar largas a este meu lado mais caótico. Acordamos quando calha (geralmente é cedo, por causa dos gaiatos que são uns madrugadores), tomamos o pequeno almoço, continuamos a comer pela manhã fora, almoçamos lá para as 3, 4 da tarde, saímos um bocado ou ficamos em casa, eles jogam, brincam e vêem televisão mais ou menos sem restrições, às vezes nem jantamos, lanchamos assim algo mais substancial, deitamo-nos tarde... enfim, deixamos andar.

Mas, pensando bem, as férias são mesmo para isso. Amanhã voltamos à rotina, aos hábitos de deitar cedo, levantar cedo, ir levá-los à escola, ir buscá-los à escola, comer a horas certas, tudo a horas certas. Vai-me custar, eu sei, principalmente porque nos desacostumámos da certeza das horas. E, ao mesmo tempo que sinto saudades das férias, sinto também vontade de entrar nesta rotina. Apesar de contra a minha natureza, sinto falta dela. Da organização que ela me dá. Sei que a minha desorganização acaba por ganhar-lhe, sei que nunca seria capaz de fazer todos os dias a mesma coisa. Sei que, apesar de estar sempre a esforçar-me por arrumar a "casa", detesto ter tudo nos lugares. Detesto ter tudo planeado. Detesto ter de obedecer a um guião, que ainda por cima não foi escrito por mim.

E às vezes, tantas vezes, também me detesto, tal como tu, Alex!

(eu sei que eles são rapazes, e que os rapazes têm mais estas brincadeiras físicas, mas caramba! Eles pensam que a casa é o parque e fazem do sofá o trampolim e das cadeiras um jogo de obstáculos! Gritam e berram como uns desalmados, não querem comer, entornam iogurte no chão, põem a casa de pernas para o ar! Estão a precisar de escola, é o que é. Venha a escola, por favor, por favor!)

7 comentários:

Alex disse...

Bom dia Papu!
Eu ontém nao deixei aqui um comentario? à noite?

Fogo. Ia jurar que sim ...

Alex disse...

Bem, ontém, pois. Sei lá eu o que fiz ontém, foi uma noite de contradições. Nunca a estrada me soube tão bem ...

Deixa-me puxar pela cabeça, ver se me lembro o que escrevi. Hum ... a minha memória anda bloqueada. JÁ SEI. Era sobre a perfeição.


Será que deixei fora de sitio?

Alex disse...

Bem. Estás a ver?
Tudo isto para te dizer que não sou a pessoa indicada para te falar de rotinas, arrumações ...

Não sei o que te dizer.
A vida é um caos. E se não fosse não tinha piada. Sempre tudo previsivelmente planeado e ordenado.

Não somos máquinas.
Se há dias em que tudo escorre bem, sem precalços, e consigo chegar a casa, cedo, fazer o jantar, com calma, dar o banho à B., com tempo para brincar, e ainda sobra tempo para ouvir musica, ou lavar o chão, ou pintar uma prateleira, ou ir com ela para o parque infantil à noite escorregar às escuras.

outros há em que não me organizo. Nem consigo. Fica o banho por dar, um jantar "desenrascado" à ultima da hora, a noite fica como se fosse um pesadelo estupido e chego ao fim do dia completamente crua.

Mas não somos todos assim?


Nós não temos que arrumar a vida Papu. Temos? Também não sei. Onde é que diz que tudo tem que ser perfeito e organizado? que tudo tem que ser feito às horas certas? que nunca podemos falhar? Onde?




Sabes que tenho saudades do Outono?
Um beijo



PS. Hoje recebi um envelope muito especial pelo correio. Depois empresto-te.

papu disse...

ó doida, o teu comentário está lá em baixo, no outro post. Exactamente onde o deixaste! ;)

papu disse...

Quanto ao resto, sou mesmo assim; uma desorganizada a sonhar com a organização. O q é q queres, gostava de ter tempo para tudo! Gostava de saber o sítio das coisas! Gostava, lá isso gostava...

mas...

não sou nem nunca serei assim! Os meus dias são quase todos como os que descreveste em último! E no fundo, cá no fundo, não gosto da rotina. Apesar de às vezes a desejar...

é uma contradição, não é?

pois é.

Alex disse...

Estou a rir-me.
Onde ? onde ? onde ?

Alex disse...

Encontrei!


:)))))))))