quinta-feira, outubro 05, 2006

ENTÃO E OS PORTUGUESES, PÁ?

Ao olhar aqui para a barra lateral das minhas leituras, constatei, surpreendida, que o número de autores portugueses é mínimo. Eu não costumo ligar a essas coisas, se é português, se é brasileiro, se é americano, quando gosto, gosto e acabou-se (e nestas coisas não sou nada patriota, diga-se de passagem). No entanto, o facto de a amostra nacional ser tão escassa não se deve tanto ao facto de eu não gostar de autores portugueses, mas talvez mais ao facto de os ter lido demasiado cedo.

Lembro-me de a minha professora Graciete nos ler As Aventuras de João Sem Medo, de José Gomes Ferreira, na terceira ou na quarta classe, já não me recordo bem. Todas as manhãs lia um capítulo a uma sala cheia de miúdos de ouvidos atentos e silenciosos. Eu adorei a história, convenci os meus pais a comprarem o livro e mais tarde também li a poesia dele.

Eu comecei a ler muito cedo. Quando as outras crianças só conheciam o tio Patinhas e a turma da Mônica, eu já devorava livros. Ainda me lembro do primeiro livro "livro" que li, foram as Férias, da Condessa de Ségur, devia ter uns 8 ou 9 anos. Depois desse não parei. Li todos os livros dos Cinco, como é da praxe (só não me entusiasmei com os Sete nem com a Gémeas e o Colégio das não sei quantas Torres). Devorei igualmente boa parte da colecção azul. Acho que as pessoas da minha geração lembrar-se-ão da Camila e da Madalena. Também eu idealizei ser como elas, mas desgraçadamente só me identificava com a desastrada da Sofia, a única criança normal no meio daquele universo fictício de patologia infantil.

Felizmente para mim, depressa alarguei os horizontes, e comecei a ler livros mais interessantes. Alice Vieira é o primeiro nome que me vem à cabeça quando penso nos autores que me acompanharam por volta dos 10, 11, 12... Também devorei a colecção Uma Aventura de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Mas não me fiquei pelos livros mais virados para o público infantil e Juvenil. É verdade, por volta desta idade, também comecei a ler Eça de Queiroz, José Saramago e Manuel da Fonseca.

Lembro-me de tentar ler a Tragédia da Rua das Flores para aí com uns 10 anos... não me recordo ao certo da idade. Digo tentar ler porque depressa abandonei a leitura, era demasiado densa para mim. Mas até aos 13 anos já tinha lido O Primo Basílio, A Cidade e as Serras e o Mistério da Estrada de Sintra. Li Os Maias antes da sua leitura obrigatória, no 10º ou 11º ano, também já não me recordo. E ainda bem que o fiz, pois essas leituras escolares são do pior que há para arruinar com a carreira de um autor, na vida de um leitor. Nunca consegui ler Camões, Almeida Garrett, Miguel Torga ou Sophia de Mello Breyner com verdadeira paixão.

Li o Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis entre os 12 e os 13 anos. Lembro-me que a sua leitura foi bastante densa e difícil. O primeiro voltei a ler alguns anos mais tarde, o segundo não. Mas o meu livro preferido dele é, sem dúvida, Levantado do Chão, que li um pouco mais tarde, aos vinte e poucos. Também gostei bastante do Evangelho, pela humanização e desmistificação da história de Jesus Cristo.

Manuel da Fonseca também me acompanhou desde os 12, 13 anos. A sua escrita simples encantou-me desde o início, e a forma profunda e sentida com que retrata o Alentejo nas suas cores simples, quentes e sólidas. Acho que li todos os seus livros.

Por volta dos 15, 16, comecei a ler poesia, Fernando Pessoa e os seus heterónimos, Sebastião da Gama (de que já falei), mais tarde li Florbela Espanca e reencontrei José Gomes Ferreira. Descobri Eugénio de Andrade por volta dos 17. Em casa dos meus avós conheci, por volta dessa idade, as quadras de António Aleixo. Mas a poesia não se lê como um romance, de enfiada; vai-se lendo, vagarosamente, volta-se atrás, relê-se, contempla-se, sente-se.

Clara Pinto Correia é outro nome português muito importante no meu percurso de leitora. Descobri-a já adolescente, por volta dos 17, 18 anos. Não consegui ler os livros todos dela (ainda!), mas li grande parte; Adeus Princesa, Um Esquema, Ponto Pé de Flor e Domingo de Ramos são os nomes que me ficaram mais na memória, entre outros.

Há autores que nunca li, e que não consigo perceber porquê; nunca li Júlio Verne, Lobo Antunes ou Ferreira de Castro, só para dar alguns exemplos. Como as minhas leituras sofreram um descalabro considerável depois de os meus filhos nascerem, já lá vão sete anos desde o primeiro, mantenho a ideia de que ainda tenho muitos livros e autores para descobrir, o que é francamente animador.

É claro que guardo recordações um pouco nubladas de todas as histórias destes livros. De algumas não me lembro mesmo. Alguns voltei a lê-los, outros não. Mas a minha memória da escrita é, já por si, fraca; esqueço rapidamente as histórias que leio, e por isso releio bastantes vezes um livro de que tenha mesmo gostado. Às vezes tenho pena de ter lido estes livros todos tão cedo, por ser difusa a memória que tenho deles. Talvez por isso a lista de autores portugueses seja tão pequena, aqui ao lado... Mas a verdade, também, é que os meus escritores preferidos não são portugueses. Nenhum deles me enche as medidas como Jorge Amado, Mia Couto ou Isabel Allende.

(Faltou dizer que, para mim, portugueses, brasileiros ou africanos, são todos escritores de língua portuguesa, não faço essa distinção. A língua portuguesa tem várias nacionalidades e cores, o que a enriquece grandemente).

1 comentário:

Alex disse...

A lingua Portuguesa é a mais bonita.
Experimenta por em Ingles um poema escrito em Portugues. Perde a piada!

Experimenta pegar num poema ingles e escreve-lo em portugues. Fica lindo!


BEIJINHOS!
KISS!
:-))))