terça-feira, dezembro 19, 2006

HOJE APETECE-ME DISCORRER


sobre a tão famosa e exemplar organização britânica...

Como, como? Acho que não ouvi bem... foi organização que disse... ?

É pá, eu realmente não percebo, é que, das duas uma: ou eu estou em Marte ou estes gajos nunca foram organizados! Ou a tradição já não é o que era, olha, assim um desses lugares comuns completamente idiotas, mas que eles são TUDO menos organizados, ai isso são!

Bom, ok, estou apenas a falar de uma faceta da organização, a mais visível, mas não a mais representativa: a arrumação. Ora vejamos: como amostra temos alguns gabinetes médicos de dois centros de saúde onde já estive (eles aqui chamam-lhes Surgery), alguns escritórios (o office do College onde estudei, e o da escola deles), e já chega para amostra. Pois bem: a desorganização é indiscritível. Só mesmo com uma imagem, mas vou tentar traduzir para palavras: invariavelmente temos umas estantes assim daquelas metálicas, encostadas às paredes, carregadas de papelada. Mas é mesmo carregada! O conteúdo dos papéis é inominável; para mim, só uma palavras descreveria tudo aquilo: lixo. Panfletos, caderninhos, folhas, eu sei lá! Tudo ali despejado ao molhe!

Eu às vezes olho aqui para as minhas estantes e quase que tenho um colapso: é que por mais que tente arrumá-las, elas enchem-se de porcarias enquanto o diabo esfrega um olho. Ora são os brinquedos que os dois diabinhos trazem do quarto e esquecem lá, ora é o correio que chegou e que alguém resolveu abrir e pôr na prateleira, e depois aquilo vai enchendo, enchendo... jornais, revistas, panfletos de pizzas e de outras porcarias, canetas, lápis, borrachas, tickets do multibanco, talões das compras... Ai, a minha paciência! E fica assim tudo para ali largado ao molhe. Pois. A secretária onde está o computador então é completamente inarrumável (nem sei se isto existe, mas lá que ela é, é!). Pois, estava eu a dizer... ? Ah, já sei. É que quando vou ao office da escola dos meus filhos saio de lá com a consciência leve como uma pena: depois de olhar para as secretárias atulhadas de papéis e papelinhos, resmas uns por cima dos outros na maior confusão, com post-its em cima, agrafadores, copos e garrafas de água, canetas e canetinhas, e lápis e borrachas e sei lá mais o quê, caixas de clips e furadores, tudo ao molhe em cima da mesa... saio de lá a achar que as minhas estantes, coitadas, até que estão arrumadinhas.

E as estantes... pois, as estantes. Não esperem encontrar arquivadores todos muito direitinhos. Ou melhor, até os encontramos, mas assim um bocado para o tombados... alguns deitados, outros ao alto, depois em cima mais uns quantos papéis, de todos os tamanhos e feitios, e de lado também... Resumindo: não há uma única estante arrumada. Arrumada, assim simplesmente, pronto.

No outro dia fiquei na sala do Diogo a ajudar, era um dia especial e os pais podiam ficar. Já tinha reparado na amálgama de coisas que estão em cima dos irradiadores e dos poucos móveis existentes: mais uma vez, tudo numa desordem indiscritível. Dá a ideia que alguém foi deixando papéis e mais papéis ali, uns em cima dos outros, capas, canetas, materiais, tudo, e nunca ninguém se lembrou de organizar aquela confusão. Bom. Nesse dia fui fazer chá à arrecadação, e ia-me caindo tudo ao chão. A arrecadação tem meia dúzia de metros quadrados. As paredes estão preenchidas de estantes de cima abaixo, cheias de brinquedos, tudo empilhado. No meio dos brinquedos há resmas de papéis que dá a ideia que podiam perfeitamente ir para o cesto dos papéis. Mas o pior é o chão, que está completamente atravancado de coisas. Caixotes cheios de brinquedos, mais resmas de papéis... é impossível andar lá dentro, ficamos à porta e estendemos os braços para conseguir alcançar as coisas... ou então temos de andar por cima da tralha toda espalhada. É o sítio onde elas guardam as malas e os casacos, que ficam atirados por cima das coisas no chão. Um quadro que só visto.

Ao lado da porta está um frigorífico baixinho, e por cima dele uma estantezinha minúscula, que é onde se faz o chá. A cafeteira eléctrica, copos de plástico, canecas, embalagens de chá, colheres, carregadores de telemóveis, açucareiro, e sei lá mais o quê, cabem à justa em cima da estante, e é impossível arranjar um espacinho que seja para por mais qualquer coisa. Por cima há mais estantes todas atafulhadas, na primeira delas está o telefone assim quase a cair, entalado entre a parede e mais não sei quantas porcarias, com os números de emergência colados na parede, escritos à mão em papel colorido já muito sumido. Tudo isto se passa atrás da porta, onde não há espaço para duas pessoas lado a lado, e no que resta do espaço é impossível andar no chão, de maneira que só dá para lá estar uma pessoa de cada vez.

Eu ainda fiquei lá algum tempo à espera que a água aquecesse, e ia olhando para as paredes completamente atulhadas, e para a bagunça no chão indiscritível. Mas porque diabo é que ainda ninguém se lembrou de dar uma arrumação nisto?, pensava com os meus botões. Mas sabem, até fiquei com uma certa simpatia por aquelas paredes caóticas. O que é facto é que a escola é animada, as pessoas são simpáticas e prestáveis, e a desarrumação dá-lhe um ar humano, usado, vivo. É verdade, não estou a gozar. Apesar de que eu arregaçava as mangas e deitava no lixo metade daquela tralha, olá se deitava.

2 comentários:

Kate disse...

Adoro estas tuas descrições! É que tens mesmo o poder da descrição, porque consigo imaginar o cenário todo.

E o que me ri...

bjs

José Antunes Ribeiro disse...

Olá, Papu, boa noite!
Afinal devo ter uma costela de algum antepassado inglês...Por momentos pareceu-me estar a ver o caos dos meus papéis dos muitos sítios onde eles se encontram!...