domingo, dezembro 10, 2006

SABIAM QUE O FRIO TAMBÉM TEM CHEIRO?

Aqui raramente sentimos frio dentro de casa. É claro que não estou a falar de um arrepio de frio, mas daquele que nos faz tremer o dente.

Mas a verdade é que às tantas começamos a sufocar com este calor. Quando estou na cozinha, no meio do vapor da fervura das panelas, começo a sentir o ar a pesar-me no peito, que a ventilação que nos instalaram na parede não é propriamente o mesmo que uma chaminé. E então abro a porta e ponho a cabeça de fora. O ar escuro e líquido da noite entra-me pulmões adentro, e sinto nitidamente o cheiro do frio a entranhar-se-me na alma, misturado com pequenos cristais de luz e com o mistério da respiração da terra.

Este cheiro eu já conheço há muitos anos. Envolvia-me num abraço gelado em cada canto sombrio da casa da minha avó, onde só à volta da lareira conseguíamos um pouco de calor. No resto da casa andávamos literalmente a bater o dente, a esfregar as mãos uma na outra e a dar saltinhos para aquecer. A propósito disto contei aos meus filhos a aventura que era deitarmo-nos à noite. Bem que aquecíamos os pijamas num velho aquecedor eléctrico que estava sempre avariado e a funcionar mal, em vão. Tirar a roupa era um verdadeiro sacrifício. Dávamos saltos e gritávamos como se estivéssemos loucos. Vestíamos o pijama a correr e saltávamos para dentro da cama. O contacto com os lençõis gelados era horrível. Tapávamos a cabeça e, debaixo de cerca de sete cobertores, ficávamos encolhidos, a esfregar as mãos uma na outra, completamente tolhidos pelo frio. O peito chegava a doer. Só passados uns cinco, dez minutos, é que começávamos a aquecer, mas era um processo lento.

Eles ficaram a olhar para mim como se lhes tivesse a contar que vivia numa gruta com outros cro-mangnos, há cerca de não sei quantos biliões de anos atrás.

5 comentários:

Alex disse...

Bonita a tua descrição do frio ...


olá

Anónimo disse...

Para compensar um bocadinho, havia as botijas de água quente para os pés.
E eram mesmo cobertores às duzias. O peso que aquilo era...
E lembras-te que quando começaram a chegar os primeiros edredons a gente (eu, pelo menos) tinha saudades do peso em cima?

Bjs,
Pedro

papu disse...

Olá aos dois! :)

Eu era mais sentir frio à mesma, mas era só impressão, estranhava a falta de peso e então achava que tinha frio, uma coisa esquisita... está claro que agora já me habituei!

Sim, as botijas de água quente eram óptimas! mas era preciso aquecê-las algum tempo antes de irmos para a cama, e pô-las na parte de cima, junto à almofada e ao pijama todo enrolado nelas, para quando nos deitássemos sentirmos o calor no peito... se não fosse assim, era a desgraça...

Anónimo disse...

...E de manhã quando acordávamos... era outra aventura sair da cama e vestir... e ir a correr lá para baixo aquecer-mo-nos na lareira... e depois o pequeno almoço... Era tão bommmm... todos sentados à mesa a comer o que de melhor havia!!! (para nós, pelo menos agora!) Os bolos fintos... quem não tem saudades... Nunca mais os encontrei!!! E o nougat... e as filhoses... ai, ai...
Já sabes... Mas não me canso de te dizer... Dá gosto ler os teus textos...
Beijinhos
Sofia

papu disse...

Olá Sofia :)

Na verdade, acho que nunca aquecíamos, não era? Habituavamo-nos ao frio.

Acho que nunca mais senti frio como nessa altura. Quando cheguei cá, há dois anos atrás, passei uma semana numa casa sem aquecimento, só havia um eléctrico no quarto. Acho que nessa semana revivi essa sensação de frio intenso que nos obriga a andar de camisola de lã até ao pescoço, e se for preciso, de casaco em casa, sempre a tentar manter as mãos quentes. E ao fim de um tempo já estava outra vez habituada.

Em compensação, no verão, esturrávamos, não era? Acho que também nunca mais apanhei tanto calor como naquela altura.

O que dá mesmo gosto é esta partilha convosco, das coisas boas que vivemos juntos. Obrigada :)

Um beijinho para vocês 3.