sábado, janeiro 13, 2007

A VERDADE, SR. DR. JUIZ!


«Jura dizer a Verdade, Toda a Verdade, Nada Mais que a Verdade?»
«Qual delas?»
«Perdão, como disse?»
«Eu disse, qual Verdade?»
«Qual Verdade?!»
«Sim, repare, a Verdade é algo inenarrável. Posso apenas dar-lhe a minha visão das coisas, a minha perspectiva dos factos, a Minha Verdade. Mas outra pessoa terá necessariamente outra visão desta questão, que pode ou não concordar com a minha, e nem por isso deixa de ser Verdade. É apenas Outra Verdade... Posto isto, penso que não posso jurar...»
«Perdão, o senhor está num Tribunal! Está a Desrespeitar as Regras...»
«Desculpe a minha insistência, mas estaria a desrespeitar se jurasse dizer uma coisa que não posso...»
«O seu Testemunho vai ser Anulado!»
«Mas não está a perceber que...»
«Silêncio, Não Me Interrompa! Eu vou repetir a pergunta e o senhor vai responder-me: jura dizer Apenas a Verdade, Toda a Verdade, Nada Mais que a Verdade?»
«Mas como quer que jure uma coisa que não posso...»
«O senhor está a Gozar Comigo?»
«Não, Eminência...»
«Responda: jura dizer a Verdade, Toda a Verdade, Nada Mais que a Verdade?»
«Mas... se jurar estarei a Mentir, não percebe?»
«O senhor está doido? Não pode estar com esses disparates num Tribunal! A sua sorte é que Sua Excelência O Dr. Juiz é meio surdo...»
«Mas quer que minta?»
«Jure, jure de uma vez e cale-se com isso!»
«Mas não posso jurar com uma mentira!»
«As pessoas já estão a murmurar, cale-se, homem! O Juiz é Surdo mas não é Parvo!»
«Ordem no Tribunal! O que se passa?»
«Ha... nada, Excelência... temos aqui uma Questãozinha Ética.»
«E do que se trata?»
«Este senhor diz que não pode jurar.»
«Não pode jurar?»
«Não, Sr. Dr. Juiz. Não posso jurar dizer Toda a Verdade.»
«Porquê?»
«Porque posso apenas dizer a Minha Verdade.»
«A Sua Verdade?»
«Sim.»
«A Verdade é sua? Como é que a Verdade pode ser sua? Comprou-a?»
«... »
«Olhe, meu caro senhor, a sua sorte é que eu até sou uma Pessoa Bem Disposta. A Verdade, meu caro senhor, é um Valor Absoluto, Inquestionável, Não Pertence a Ninguém. Faça lá a Jura e vamos ao que interessa.»
«Não posso, Sr. Dr. Juiz...»
«Não pode porquê?»
«Precisamente, Sr. Dr. Juiz, por discordar dessa sua interpretação dos fact...»
«Discordar? Mas como se atreve a discordar da Palavra De Um Juiz Em Plena Sessão de Tribunal? Sabe que está a Desrespeitar A Ordem e A Honra Deste Tribunal? E que por causa disso pode ser Preso?»
«Mas, Sr. Dr. Juiz, estava apenas a tentar explicar o meu ponto de vista de que a Verd...»
«Aqui o seu ponto de vista Não Interessa Para Nada, O Que Interessa é o seu Testemunho, e para isso tem de fazer o Juramento. Ponto Final.»
«Mas se jurar estarei a mentir...»
«A Mentir? Mas que conversa é essa? Não pode Mentir num Tribunal, não sabe que é considerado Crime? Se Mentir vai Preso...»
«Então não posso jurar!»
«Basta! O senhor está a Desrespeitar Publicamente a Honra deste Tribunal! Temos Testemunhas Suficientes na Sala. Guardas, LEVEM-NO!»

4 comentários:

Anónimo disse...

:-)

Beijos,
Pedro

papu disse...

Olá Pedro :)
Um beijinho

Alex disse...

Precisamente.
A minha verdade pode não ser a tua verdade. Fantástico.



Estás tão quietinha ,,,

queres ir acelerar???

Sabes aquele anuncio "no meu tempo" ... diziamos - bora dar um pézinho de dança? Eu era mais

bora dar ao pedal????

:))))))

Beijocasss

Manuel da Mata disse...

Olá!,
Vou arranjando tempo pra ler e passo por aqui com regularidade.

Bom serão,
Manuel