terça-feira, junho 26, 2007

Eu não consigo ser organizada como mãe

nem como pessoa, acho. Não é que não goste da organização e não suspire todos os dias por ela. Quando o David nasceu ainda me lembro de planear as coisas, mas agora a vida aquiriu um ritmo demasiado acelerado. Nem uma saída ao parque consigo planear neste país onde, em pleno verão ou inverno, tanto faz, a chuva chega sem avisar, mesmo que há minutos atrás esteja um sol radioso.

Eu não nasci para ser dona de casa, e desempenho esse papel muito mal (leia-se: sem nenhuma organização). Agora, neste instante, por exemplo, onde é que eu devia estar? Sentada ao computador não, de certeza. Tenho roupa e loiça para lavar, uma casa de banho para limpar, isto para não falar da roupa que nunca passo a ferro e da quantidade de papéis que devia organizar... e o que é que eu estou aqui a fazer? Boa pergunta.

Tenho inveja das pessoas que conseguem tempo para planear as coisas e cumpri-las, tenho sim. Eu vivo sempre com a sensação de que tenho uma data de pendentes por resolver, dentro da gaveta dos acontecimentos. Esqueço-me de tudo. O David está-me sempre a dizer que já lhe devo quase duas libras, porque há não sei quantas semanas que não lhe dou a semanada (dou-lhe 20p por semana). Entretanto o Diogo vê e também quer, claro, e eu a ele vou-lhe dando umas moedinhas de 10 e 2p de vez em quando, porque acho que ele ainda é muito pequeno para ter semanada. Depois às vezes acaba por dar o dinheiro ao David. De outras vezes encontramos notas de 10 e 20 libras muito dobradinhas, dentro das carteiras deles. Da última vez foi o Diogo que foi à minha carteira e eu nem dei por nada! Lá lhe expliquei que não pode ser, que o dinheiro faz falta à mãe e ao pai e que ele não o pode tirar. Não me zanguei muito porque ele acedeu a contar a verdade.

A vida corre demasiado rápido e eu nem sempre consigo desdobrar-me. Desde que chegámos aqui que é assim. Às vezes oiço as pessoas falarem da transição dos filhos para o primeiro ciclo, por exemplo, e de todas as expetactivas e preocupações associadas a isso, e fico a pensar que eu nem tempo tive para sequer pensar nisso, quanto mais preocupar-me. Quando aterrámos neste país cinzento, em Dezembro de 2004, o meu filho mais velho, então com 5 anos, entrou para o year 1 (que é o equivalente à primeira classe) no mês a seguir. Foi uma mudança completa e radical: nova escola, novos amigos, nova professora, e, principalmente, outro país e outra língua. Ele não falava nada de inglês. Eram tantas as mudanças e tanto o stress que nem houve espaço para pensar na transição para a primária. Aliás, esse pormenor era completamente insignificante no meio de tudo o resto.

Por incrível que pareça, nessa altura, no meio da avalanche de coisas que iam acontecendo, não senti o impacto. Estava demasiado ocupada. Agora, que o pior já passou, começo a sentir a ressaca. É estranho, isto. O nosso tempo interno não tem nada a ver com o tempo dos relógios. O tempo que precisamos para digerir todas as emoções que vamos sentindo, e às vezes, até, para tomar conhecimento delas, para que elas se desenhem, nítidas, aos nossos olhos. Quanto tempo precisamos para encarar o que sentimos nascer?

5 comentários:

Anónimo disse...

Leio todos os dias mas nem sempre comento, hoje porém identifiquei-me com a tua realidade que não é a minha mas pode vir a ser. Já aqui disse uma vez que por diversas vezes estive na iminência de ir para outro país (Irlanda)e vivo diariamente nessa possibilidade, à distância de apenas um "sim" da minha parte. Acontece que tenho tanto medo, por minha causa e dos filhos, medo do tempo meteorológico, medo das pessoas, enfim...Como está a ser para ti tudo isso? O Saldo é positivo?

papu disse...

Kella

é difícil responder a essa pergunta. Depende muito das circunstâncias em que se vem para outro país. No meu caso, viémos sem nada de concreto, e com o Diogo muito pequenino, o que implicou ter de ficar em casa com ele até há muito pouco tempo, e isso fez com que as coisas não andassem tão depressa como seria desejável. E depois há outra coisa importante, que é a falta de apoios. É muito, mesmo muito difícil não poder contar com o apoio de ninguém. Isto não é para te desencorajar. Mas tem de ser uma decisão muito bem pensada.

Bjs.

papu disse...

Ah, outra coisa. Penso que na Irlanda as condições de imigração são ainda melhores que aqui. isto quer dizer que eles têm de facto uma política de apoio à imigração, o que, claro, facilita bastante as coisas. Informa-te bem :)

Anónimo disse...

Obrigada pelos conselhos. Tenho muita admiração pelas pessoas que, como tu, dão esse passo de coragem e determinação. Eu sou pouco corajosa...pelo contrário, só penso mesmo em mudar se conseguir as condições que desejo na altura que quero, etc. Eu sei, não é um bom pressuposto mas é assim que eu sou...
Sim, na Irlanda não é mau, para além disso temos lá toda a familia do Barry, o meu marido. Até era possível arranjar logo empregos embora não nas nossas áreas e é isso que me desencoraja...afinal aqui somos os dois professores e não vivemos assim tão mal...no entanto há um grande descontentamento: a política, a vida econõmica e mesmo o nosso estatuto que já não é o mesmo de há uns anos atrás...enfim, não sei o que fazer. Por agora e, porque engravidei do meu 3ºfilho, vamos esperar mais uns tempos!
Fica bem e mais uma vez agradeço!
Bj

Anónimo disse...

Papucita
Parece que és minha filha e não da Mina.Também eu tenho uma série de tarefas "urgentes" que vou deixando de dia para dia, de semana para semana, de ano para ano, e aqui estou a fazer o que me apetece no momento e só com um pouquinho de remorso mas lá muito no fundo...
Claro que há as "mulheres ideais"que não têm em casa um grãozinho de pó mas decerto não vivem com tanto gosto e gozo como nós. Coitadas...Beijocas preguiçosas...