sexta-feira, setembro 14, 2007

Laços e nós

Tenho pena daquelas pessoas que nos abrem os braços e o sorriso, e nos brindam com o melhor olhar de cumplicidade, quando, por um acaso, daqueles acasos que estão sempre a acontecer, lhes cai em cima a descoberta de que temos o mesmo sangue. Os alentejanos, como os pretos, são todos primos uns dos outros, e eu sempre vivi no meio de uma grande família alargada, tão alargada que até chamo de primos e primas muitas pessoas que não pertencem realmente à família. Sempre convivi bem com esta multifamiliaridade e continuo a conviver, acho, e claro que é com um sorriso que estendo a mão a todas as pessoas que, por um acaso feliz, me vêm parar dentro dessa família alargada que parece não ter fim.

Mas de quem eu tenho pena é dessas pessoas, que agora nos afagam com um calor novo no olhar, serem as mesmas que antes olhavam para nós de esguelha se fazíamos um sorriso mais rasgado, ou que respondiam hesitantes ao nosso bom dia. As mesmas que, quando o sorriso mora numa cara estranha, ou a voz fala outra língua e o olhar tem outra cor, se apressam a sorrir sem voz, a olhar para o lado, a encolher a mão rapida e discretamente, depois de a estender, a medo.

É dessas que tenho pena. Porque, coitadas, ainda não perceberam que afinal, todos somos a mesma humanidade, todos temos o mesmo sangue nas veias - no fundo, somos todos irmãos uns dos outros. Ou primos, como preferirem. Em qualquer lugar do mundo.

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