domingo, dezembro 16, 2007

Nunca vos acontece?

Apetecer-vos comer (ou beber) algo que comiam no passado e que nunca mais voltaram a comer? A mim acontece-me amiúde, e é um tormento. Agora, por exemplo, apetecia-me uma coisa fresca, ácida e doce, uma laranja ou uma tangerina, e já comi duas (tangerinas) mas tinham um sabor tão deslavado que ainda me agudizaram mais o apetite. É que as tangerinas a que me refiro não eram umas tangerinas quaisquer (ou as laranjas, ou as tangeras, ou tanjas, como a gente dizia), eram as tangerinas do Pinote! Para quem não sabe, o Pinote era o quintal dos meus avós, onde havia laranjeiras, uma nespereira, uma figueira, limoeiros, pessegueiros, marmeleiros (é assim que se chamam as árvores que dão marmelos?), e acho que não me estou a esquecer de nenhuma. Ah! Havia também uma romaneira (romaneira ou romãzeira?), que dava as melhores romãs que até agora comi. Isto para não falar das framboesas. Cada vez que penso, por exemplo, numa laranja, vem-me o sabor à boca, exactamente como se o estivesse a trincar agora (à laranja, não ao sabor), e a sentir aquele frio nas mãos enquanto a descascava (a casca era sempre grossa e o cascarrão muito branco e muito espesso, de maneira que o trabalho de descascar era árduo e demorado, e no fim o prato ficava cheio das cascas e de bocados brancos e esponjosos). O frio era outra coisa que fazia parte do prazer de comer laranjas, porque só havia laranjas no inverno, e os invernos eram rigorosos, na chuva e no frio (lembro-me de chover sem parar durante dias seguidos, e lembro-me da família toda reunida no aconchego da lareira, como se o fogo fosse o coração da casa, e do arrepio que nos assaltava os ossos quando nos levantávamos para ir para outras divisões da casa, que estavam, literalmente, geladas). Outra das coisas que me apetece sempre comer, deste meu passado gastronómico longínquo, é uma sopa de cação, daquelas feitas pela Mariana ou pelo Aníbal. Mas daquelas mesmo boas, com muito colorau, e muitos poejos. E aquele bolo de caramelo, lembram-se? Aquele que fazíamos sempre no Natal ou na passagem de ano, acho. Bem, esse pode-se voltar a fazer... alguém tem a receita, por favor?
Mas é claro que, mesmo que o voltemos a fazer, uma e dez vezes, não vai saber, de certeza, ao mesmo. Há coisas cujo sabor é inigualável (ui! Esta agora foi mesmo saudosista!)


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