sábado, janeiro 12, 2008

Diferenças de género?

Neste século e no que passou, muitos têm sido os estudos levados a cabo para mostrar por a+b que as mulheres e os homens são diferentes (como se isso não fosse evidente). Mas esperem, que não é minha intenção entrar por aí. Bom. O senso comum (das mulheres, como é evidente) há muito que já se apercebeu destas diferenças básicas, e uma das que gosta de apregoar aos quatro ventos é a nossa capacidade de nos ocuparmos, simultaneamente, de várias tarefas ao mesmo tempo, ao passo que os homens, mais centrados (concentrados, dirão eles), dificilmente se desdobram em actividades.

É certo e sabido: se estamos na cozinha a preparar o jantar, não fazemos uma coisa de cada vez, vamos fazendo várias ao mesmo tempo. Se estamos ao telefone com alguém, podemos perfeitamente manter dois diálogos distintos: um com o nosso interlocutor, e outro com o chato ou a chata que insiste em perguntar-nos onde raio está guardado o papel higiénico ou onde pusemos as cuecas dos putos (a localização dos objectos numa casa é sempre um mistério para todos além de nós). E se estamos na rua, em conversa animada com alguém, pelo canto do olho continuamos a ver o mundo à nossa volta, e se passa alguém conhecido por nós atiramos com um sorriso e com um sonoro "Olá", gritado bem alto para que não haja dúvidas de chegar aos ouvidos distantes da tal pessoa.

Mas esperem lá. Pensando melhor, algumas coisas destas alguns homens também conseguem fazer. Ou não? E será que todas as mulheres se comportam mesmo assim?

Pois olhem, eu, desde que vivo neste país, tenho vindo a desconfiar que isto não tem nada a ver com o sexo das pessoas. Se assim for, estamos perante um fenómeno da natureza, em que membros do sexo feminino apresentam compulsivamente comportamentos do outro género. É que os ingleses em geral (e, o que é interessante, também alguns estrangeiros aculturados, digamos assim) não conseguem fazer este exercício tão simples de prestar atenção a duas coisas, em simultâneo (simples no entender das mulheres, obviamente). Se estão na rua a falar com alguém, nós até podemos passar a cinco centímetros deles, que, pura e simplesmente, não nos vêem. Quando chegamos à secretaria da escola, se a simpática senhora está ocupada a falar com alguém, nós até podemos ter apenas um simples envelope na mão para deixar, mas não se iludam: não podemos deixá-lo ali, com um discreto olhar de cumplicidade, e escapulirmo-nos para os nossos afazeres, a não ser que outra alminha do lado de lá no balcão repare, por acaso, na nossa pressa (e é preciso que não esteja a fazer rigorosamente nada) e nos estenda a mão para que lhe dêmos o envelope. Sabem aquele malabarismo que toda a gente faz nos cafés, de manhã, depois de beber a bica apressadamente, que é deixar as moedas em cima do balcão, depois de confirmar, com um olhar na direcção dos olhos do empregado (que ele corresponde, mesmo que esteja a perguntar para o fulano ao vosso lado: "É café?") que ele captou o nosso gesto, e que as moedas não ficarão para ali esquecidas, ou, pior ainda, vão parar ao bolso de algum espertalhão? Pois é, minha gente, esqueçam. Essa cena trivial nunca se poderia passar na Inglaterra. Primeiro, porque aqui não há cafés (mas isto já é outra conversa, já me estou a desviar do assunto, como é habitual).

Voltando ao que interessa, isto é uma coisa que me deixa deveras intrigada e desconfortável. Será que, nos padrões deles, é falta de educação interromper seja o que for com um caloroso "bom dia"? Mas não é preciso estarem ocupados para manifestarem este tipo de cegueira social. Há situações em que, ou a gente lhes passa mesmo debaixo do nariz (dito de outra forma, a não ser que a gente quase esbarre com eles), ou então pura e simplesmente nem nos olham. E, o que é mais estranho, acho que nem nos vêem. É como se tivessem umas palas, sabem? Como os burros.

Eu cá, refazia os estudos. E introduzia este novo factor, que me parece interessantíssismo, que são as diferenças culturais (ou serão de latitude? Ou de clima? Ou de alimentação? Bem, pensando melhor, o caso não é assim tão simples. Mas pronto, é só uma ideia).

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