quarta-feira, junho 25, 2008

Inquietude

Hoje fiz sopa.
Já não fazia sopa para aí há uma semana.
A sopa é uma espécie de barómetro das rotinas familiares.
Quando a sopa corre nas veias o coração bate num ritmo constante. Quando não há sopa... o ritmo altera-se.
A pressão diminui, aumenta, diminui...
Os pequenos gestos expandem-se e os grandes encolhem.
Os pequenos gestos, os pequenos males, os pequenos passos. Tudo aquilo que é votado ao desdém. O que não mata engorda, dizemos, encolhendo os ombros.
E às vezes são gigantes.
A terra move-se em torno do seu eixo à velocidade de 400 e tal metros por segundo.
400 m/s são 1440 Km/h. (se não me enganei nas contas.)
Já imaginaram?
Às vezes sonho com um tempo fora do tempo. Um tempo fora do espaço. Fora desta velocidade alucinante. Um tempo e um espaço imóveis. Que, afinal, não existem.
Onde assenta, então, tal conceito, o de imobilidade?
São as pequenas coisas. As tais. Já pensaram? Somos um grãozinho de areia, menos, até, um grãozinho, uma infinitésima parte do universo, mais pequenos que um átomo, que um electrão...
Somos uma coisinha minúscula, insignificante.
E, no entanto, cabe-nos toda a imensidão e quietude na alma.
Cabe?
Preciso de um leitor inglês para as minhas estórias.
Hoje encontrei-a (é uma leitora).
Será que ela reparou que lhe entreguei um bocado substancial de mim junto com aquelas folhas?
Os gestos nem sempre se resumem àquilo que aparentam. Os gestos nascem-nos nos afluentes dos sentidos.
Às vezes remamos contra a corrente. Às vezes naufragamos.
De outras vezes, deixamo-nos ir. Afogamo-nos.
Ou cortamos as águas com as nossas barbatanas de peixe.

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