quarta-feira, outubro 08, 2008

The ministry of food

Depois de ter renovado o panorama alimentar escolar, Jamie Oliver continua a sua saga. Uma verdadeira saga, neste país de hábitos alimentares tão retrógrados e atrasados que até dói. Mas ele está decidido a mudar a vida alimentar das pessoas. Ensinar as pessoas a cozinhar pratos simples, e, mais importante, a retirarem prazer de o fazer. Depois essas pessoas comprometem-se a passar os conhecimentos adquiridos a outras duas - e assim sucessivamente, numa continuidade exponencial.

E, realmente, só mesmo ele para conseguir pôr aqueles homens a cozinhar - não por serem homens, porque o que para aí mais há é homens que cozinham e muito bem, mas por serem daqueles matarruanos que nunca puseram os pés numa cozinha (a não ser para desentupir canos ou passar as mãos por água) e nem sabem distinguir um tacho de uma frigideira. Sim, ele pôs homens desses a cozinhar, num estádio de futebol, umas quantas mesas alinhadas na grama, com todos os utensílios indispensáveis ao acto. E, o que é mais incrível, aqueles gajos, matarruanos, broncos, que nunca tinham sequer pelado batatas ou estrelado um ovo (nem sequer partir um ovo deviam saber, a não ser mandando-o à cabeça de alguém) curtiram que nem uns doidos enquanto temperavam os bifes e fritavam os espargos. Um deles, mineiro de profissão, passou a cozinhar todos os dias para a família - vimo-lo debaixo do chão, com a cara preta de carvão, e depois, já com a cara lavada, de avental e tacho numa mão, colher-de-pau na outra, a preparar uma refeição para a mulher, o filho, e o convidado especial desse dia - como não podia deixar de ser, ele mesmo, Jamie Oliver.

Uma das alunas dele, que já lhe segue os passos - já o substituiu nas aulas - é uma mãe solteira, que, antes de frequentar as aulas dele, dava aos filhos apenas quebabs e pizzas para comer - estamos a falar de crianças entre um e dois anos. Hoje, tem uma horta no jardim, onde planta legumes, e aprendeu a cozinhar. Pratos simples, sempre rápidos, mas sempre igualmente saudáveis.

Jamie congratula-se com os resultados da sua obstinada missão, e tem razão para isso. São aprendizagens com um valor incomparável, aquelas que ele proporciona. Habilitações tão simples como fazer uma salada ou grelhar um bife em cinco minutos, podem mudar uma vida. Podem mudar muitas vidas. E mudam, já estão a mudar. Este tipo, descontraído e bem-humorado, com os cabelos espetados, e que tempera com fuckin' cada três palavras que diz, está a fazer pela alimentação deste país muito mais do que a Casa dos Comuns inteira alguma vez fez ou fará.

3 comentários:

Kate disse...

Pois então, parece que o rapaz tempera muito bem o que entra e o que sai da boca ;)

Há uns tempos comprei um livro dele, porque gosto de experimentar coisas diferentes. Delicio-me com a sopa Minestrone.

CLS disse...

Às vezes, tenho receio que aconteça o mesmo aos portugueses, porque o que é in é ir com os miúdos ao fast-food ou ir buscar o almoço ao take away, cozinhar nem pensar! E há quem entre nesse esquema sem ter possibilidades económicas, comem assim na 1ª metade do mês e na 2ª andam a café com leite e cereais.
Já vi esse Jamie algures num canal por cabo e gostei do programa, mas "perdi-o", não me lembro onde foi.
Beijocas

morfose disse...

O Jamie é um herói.
Revolucionou a consciência alimentar nas escolas inglesas, mas ainda há muito para fazer.