terça-feira, novembro 11, 2008

Quando batemos de frente

E das frentes, já ouviram falar?
Quando o ar frio e quente se encontram, não há cá misturas. Não, as massas de ar não são muito dadas a abraços e beijos e outras fusões do género. Portanto, em vez de se misturarem, passam uma pela outra, deslizando, empurrando, agitando, mandando para o alto.
São assim uma espécie de encontros tímidos, olhares de soslaio, toca e foge, ou não me toques que me desafinas, tira lá as mãozinhas e desparece.
Ora, é graças a esta incompatibilidade aérea que se geram as tais frentes, ou superfícies frontais. Imaginemos então os ventos gelados, vindos dos polos, quando se encontram com os ventos suados do equador. Estas massas de ar viajam milhares de quilómetros até se encontrarem, esbarrarem, baterem de frente. E não, nada de lamechices! É seguir em frente, que isto não há tempo a perder, nem para um simples aperto de mão. Quando é o ar quente que corre, veloz, subindo a massa de ar frio que, mais pesada, mais densa, rasteja ao nível do chão (ou do mar), este movimento ascendente do ar gera nuvens baixas, alguma humidade, e aquelas chuvinhas tipo molha parvos, aquelas que parece que não molham ninguém. De outras vezes, porém, é o ar frio, aquele que rasteja junto ao chão, que larga em corrida desenfreada, e que, ao colidir com o ar quente, o empurra para cima, exactamente como se chocássemos com toda a força com alguém que fosse mais leve (tipo um balão de ar) e por isso, em vez de o derrubarmos no chão, fizéssemos com que este voasse literalmente. O ar quente, assim empurrado de repente, mandado ao ar, atordoado, rapidamente se eleva, dando origem a nuvens pesadas, de desenvolvimento vertical. Resultado: chuvadas torrenciais, fortes bátegas, cães e gatos a caírem dos céus.

Pois é. E tudo isto por aqueles dois, o ar frio e o quente, não se gramarem nem à lei da bala.

(a minha professora de geografia tinha uma cara bicuda e uma voz igualmente bicuda. O cabelo também se lhe espetava para cima, e nós chamávamos-lhe a abelha maia. Obrigava-nos a escrever páginas e páginas por dia, ela a ditar, com aquela voz cheia de arestas, sobre as vicissitudes das condições atmosféricas. Não sei se foi por causa dessas horas todas a escrever que ainda me lembro destas coisas todas. Bom, na realidade, não foi bem assim que ela nos explicou a coisa. Eu depois acrescentei a minha versão da história.)

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