segunda-feira, abril 13, 2009

Não sou eu quem me navega quem me navega é o mar

Não sou eu quem me navega. Não, nunca fui. Sou desses barcos perdidos na correnteza dos rios, dessas garrafas carregando pedidos de socorro mudos, condenadas a boiar nas águas até a eternidade acabar. Nunca. Cheguei a esta ilha que não sei onde fica, perdi o norte e as coordenadas. Ao redor de mim não há nada. Chegar-se a casa e não encontrar ninguém, por fim o silêncio tão ansiado. O prenúncio da morte. Despir com gravidade essa ansiedade que afinal durante todo esse tempo apenas mascarou o desejo. O desejo de um outro tempo, do meu tempo. Aquele que nunca vivi, de facto. Porquê? Nunca sabemos a resposta das perguntas mais importantes, mais acertadas. As perguntas erradas? Talvez. Agora vejo dentro de mim aquela emoção toda que nunca ousei transbordar para fora. Por medo. Medo de me afogar nas minhas lágrimas? Que mar é esse que me navega? Esse oceano inteiro que eu teimo em estancar na garganta, essas lágrimas que acabo sempre engolindo, essa beleza toda que eu escondo até de mim, até de mim, como uma menina envergonhada. Vergonha nada. Medo. E é o medo que me veste, ainda. As ondas do mar que me navega. E eu vou, levada nas ondas, até àquela ilha deserta. Um pedregulho bem no fundo da minha consciência. A minha solidão, rara, única, que me come os dias um a um, perante a minha desistência. Desisti há muito de navegar, e hoje, quem me navega é ele, o mar.

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