segunda-feira, setembro 28, 2009

Poderes ocultos

Já sabia, há muito tempo, que as palavras, quando escritas, têm poderes mágicos. Lembrava-se com angústia daquela professora de francês, odiosa, que tinha um especial gosto em humilhar, morta num trágico acidente a meio do terceiro periodo. Lembrava-se especialmente das frases escritas, rabiscadas à pressa, com uma letra horrível para que ninguém pudesse decifrá-las, um grito estampado nas folhas dos cadernos, entre risinhos nervosos, ante o olhar acutilante da professora, um olhar que espetava qualquer coisa cortante junto ao coração. Estúpida. Monstruosa. Vaca. Porca. Morre. Morre. Morre. Tantas vezes escrita, a palavra. O desejo.
Por isso, agora, tinha sempre muito cuidado, tanto cuidado, com o que escrevia.
(Enchia folhas e folhas de desejos secretos, obscuros, inconfessáveis. E morria só de pensar nisso.)

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