sábado, outubro 31, 2009

Noite das bruxas

Havia um fantasma que a visitava todas as noites de insónia. Entrava-lhe pela janela de braços estendidos e com mãos frias afagava-lhe o ombro. Ela fechava os olhos e tinha na sua frente uma cama alta, imensa, com aquela manta vermelha aos quadrados que lhe fazia comichão no corpo. Depois havia algo dentro do seu corpo que se partia, enquanto se encolhia, junto à parede, o mais possível para fora da manta, e nas costas lhe ardia qualquer coisa que nunca soube o que era. Tentava a custo proteger a parte da frente do corpo como se as costas não lhe pertencessem. Cerrava os dentes e de olhos fechados procurava fugir dali. De tal forma que conseguia anular a dor, os sentidos, e hoje não se lembra, não sabe, não consegue nomear aquela sensação medonha. Só sabe que era monstruosa, que a esmagava de encontro à parede, que a virava do avesso, que a deixava como morta. Fingia de morta. Acreditava que assim, nada a poderia atingir, e que o monstro, ou seja lá o que fosse, acabaria por ir-se embora, para cima do telhado. Como dizia a canção que a mãe lhe cantava, outrora.

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