quinta-feira, novembro 12, 2009

Gabriela

Não sei porquê, lembrei-me disto. Do meu nome. De como em criança detestava o meu nome, e a culpa nem sei bem de quem foi, se do Jorge Amado, se da Gal Costa, se da TV Globo (era da Globo, não era?), se da Sónia Braga, se de alguém de facto. O que é facto é que já não podia ouvir as pessoas, sempre a gracejarem, cada vez que me viam. Ou ouvir a canção, na voz límpida e cheia de sonoridade da Gal. Gabriela, meus camarada. Gabriela, cravo e canela. Deixei de ser eu, para me tornar numa anedota. Sei lá se foi isso. Naquela idade não nos apercebemos bem do porquê das coisas, apenas sentimos e pronto. Eu desatava a gritar cada vez que a ouvia e antecipava os sorrisos babados à minha volta. Gritava e fugia. Escondia-me. Não suportava aquilo. De tal maneira, que votei o meu nome ao esquecimento. Talvez não tenha sido intencional, mas a verdade é que passados alguns anos já ninguém me chamava Gabriela. Nem a minha mãe. A não ser quando estava zangada.

E por sinal, gosto muito da música. E da Gal, também. Da Sónia, aquele portento de mulher morena. E da novela, sim, gostei imenso e até a revi. O livro, como é habitual, é bem melhor que a novela. E do meu nome também, já agora.

Aliás, naquela altura, em que renegava a Gabriela, eu queria mesmo era ser a Malvina. Brincava com a minha melhor amiga à Mal e à Jé, que era um código para que ninguém percebesse os nomes, Malvina e Jerusa. Ninguém eram os meus primos e irmão. Mas claro que todos percebiam. Também brincávamos a outras coisas, e dávamos beijos na boca. Isto, sim, sempre foi segredo.

1 comentário:

Lelena Lucas disse...

Pois tenho algumas boas Gabrielas na minha vida. Uma em especial é minha afilhada e me supre com muitos méritos alguma vontade que posso ter tido de ter uma filha (tenho dois meninos, acho que assim como você, não é?). Só tenho motivos pra gostar do nome!
Beijos