sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Consulta

Boa tarde, soutôr. Está tudo bem, obrigado. Vim falar consigo sobre um assunto... É que queria retirar o DIU. Não, não é isso que está a pensar; não quero engravidar de novo, não. Três já me chegam muito bem. Não, o motivo é outro, é... Quero mudar. Sim, mudar de método. Eu sei que não devo voltar para a pílula, a minha idade, já a tomei muitos anos... Mas não haverá outra alternativa? Sem ser o DIU, pois. Não, é que... Olhe, não sei bem como explicar, o soutôr vai achar que estou maluca, mas a verdade é que há meses em que me sinto grávida e... Não, não está a perceber, não são esses sintomas comuns que muitas mulheres descrevem, sim, eu sei, algumas etapas do ciclo menstrual assemelham-se à gravidez, sim, fazem-nos sentir... Eu sei, mas não é isso. É outra coisa. O quê? Não sei se consigo explicar. Olhe, das três vezes que engravidei, pode não acreditar, mas é a mais pura verdade, soube que estava grávida praticamente desde o primeiro dia. Pronto, não terá sido desde o primeiro, mas talvez do segundo ou do terceiro. Não sei, o que interessa é que sinto as gravidezes desde muito cedo, muito antes do que a maioria das mulheres, a julgar pelo que oiço. Sim, antes de a menstruação atrasar já eu sei que estou grávida. Não sei como, não sei explicar, mas aconteceu das três vezes, não pode ser uma coincidência, pois não? Da primeira vez então pensei mesmo que estava maluca, nunca tinha estado grávida, portanto não sabia como era, mas sentia aqui uma coisa dentro da barriga, uma sensação de repuxamento, parecia que me estava a inchar o útero... E não era só isso, eram umas más disposições assim esquisitas, umas sensações, e uma presença, uma presença estranha aqui em baixo. Sim, antes de me falhar a menstruação. Quanto tempo antes? Sei lá, uma, duas semanas? Sim, é por isso que digo que é quase desde o primeiro dia. Não é possível? Olhe, que quer que lhe diga? Das tres vezes foi assim. Dessa primeira vez pensei que estava doida, a sério. Pensei que era só o desejo de ficar grávida. Pois, tinha deixado de tomar a pílula, e logo no primeiro mês começo a sentir aquelas coisas... Depois quando a menstruação não veio ainda mais convencida fiquei. Fiz logo o teste, para aí ao terceiro dia de atraso, e deu negativo. É como lhe digo, pensei que tinha enlouquecido. Mas depois reparei que junto do resultado estava escrito duvidoso em letra mais pequena. Liguei para o laboratório a perguntar o que queria aquilo dizer. A moça disse-me que não tinha concentrado hormona suficiente. Nem percebi nada, mas ela disse para repetir o exame passado uma semana e para não beber líquidos desde a noite da véspera. Assim fiz, e dessa vez lá veio o resultado positivo. Sim, isto foi de quando engravidei do meu Zé. Por isso não estava nada maluca! Depois quando foi da minha Rita foi a mesma coisa, as mesmas sensações, dessa vez não fui logo fazer o teste, esperei o tempo suficiente. E da Laurinha a mesma coisa. Nunca falei disto a ninguém, nem sei porquê. Mas agora, desde que coloquei o DIU que é isto, soutôr. Quase mês sim mês não. Às vezes dois meses de seguida. Estou-lhe a dizer, é esta presença aqui na minha barriga, estas más disposições, parece que estou sempre com fome e depois a comida não cai bem, ou então nem posso ver comida à frente mas depois de comer sinto-me melhor ou então vem a azia, depois passa. E aquele repuxar cá dentro. Acha impossível? O que é que é impossível? Ah, quer dizer, o DIU não impede a fecundação, por isso é normal eu ficar grávida, o que não é normal é sentir uma gravidez desde tão cedo? Mas se lhe estou a dizer que foi assim que aconteceu com os meus filhos! E já imaginou o que é, isto quase todos os meses? Não, eu nem quero mais filhos, que três já me chegam, mas é que quando a gente engravida o nosso corpo muda, a cabeça também pois, nem sei se é das hormonas se é do quê, só sei que de repente estou feita doida a sentir o meu filho na barriga, a sentir-lhe a presença e a desejá-lo mais que tudo na vida, veja lá que outro dia ia sendo atropelada e a primeira coisa que fiz foi levar as mãos à barriga, e só pensei no meu bebé, em mais nada, então isto é normal? E depois fico a pensar, caramba, mas eu não quero mais filhos, e a minha idade, e essas coisas, e aquele sorriso parvo que não me sai da cara? E aquela alegria que nem sei bem de onde vem? E aquela coisa de pensar que estou maluca, isto não pode estar a acontecer. Mas está. E quando dou por mim estou a escolher-lhe o nome e a falar com ele. Com o bebé, pois. Não sabia que as mães falam com os bebés na barriga? Não acredito. O soutôr é homem, não sabe o que isto é. Olhe, o que sei é que depois quando vem a menstruação é assim aquele espanto e aquele alívio, felizmente não estou grávida, e ao mesmo tempo aquela tristeza, de sentir uma coisa minúscula morrer dentro de nós. Uma parte de mim. Pois, está bem, pode ser só um aglomerado de células, mas é meu e estava cá dentro a crescer. E eu sentia-o. O soutôr não acredita, acha mesmo que estou maluca. Eu sei lá se estou maluca, o que eu sei é que isto não se aguenta todos os meses. Hão-de haver outros métodos, não é verdade? Isso não sei, um que não me dê tantos sobressaltos.

2 comentários:

Sofia Ruivo disse...

Ai rapariga... Mas isto é uma estória das tuas... uma história... ou é verdade?... Tu não és que não tens nem zé nem Laura... Mas até me deixou o coração apertado!!! Já não ponho DIU!!! :)
bjs

papu disse...

LOL

é uma estória, mas é verdade que senti as gravidezes desde os primeiros dias... juro :)