quinta-feira, março 04, 2010

milk tray

Às vezes vou ao armário da cozinha, onde tenho a lata com os pequenos tesouros recheados a chocolate de leite, e tiro um, sorrateiramente, como se fosse uma criança a cometer um pequeno delito. Meto-o na boca e deixo-o derreter-se contra a língua, enquanto um sabor ligeiramente picante a transgressão me invade a garganta e os pulmões. Gosto destes momentos, destes pequenos prazeres clandestinos, da excitação que os acompanha, como se de facto fosse um dos meus filhos a comer um chocolate proibido. Depois, componho o avental e continuo as tarefas próprias da minha condição doméstica. Daí a nada, porém, está-me o renegado do querubin outra vez emploreirado no ombro, e a minha saliva a tornar-se tão espessa que tenho de tossir para aclarar a garganta. Quero lá saber!, penso, com determinação, enquanto a minha mão esquerda se esgueira novamente por entre a brecha da porta do armário. Tenho o anti-histamínico lá em cima, na porta de vidro por cima do lavatório, para o caso de ter alguma reacção, consigo ainda articular em pensamento, enquanto as dendrites e os axónios se desfazem em paroxismos frenéticos, descompassados, desconjuntando as sinapses nervosas como um comboio descarrilado, ao longo da bainha de mielina.

2 comentários:

Alex disse...

pois, foi aqui, foi aqui que me deu uma vontade enorme de ...

papu disse...

;)