Às vezes é o sangue. A dor. A raiva. Às vezes a corda aperta, aperta, aperta. Não conseguimos respirar. Às vezes renascemos. Sem braços nem pernas mas com o coração a transbordar. O coração sabe. O coração sente.
Às vezes é um nome. Uma frase. Olharmos o espelho e reconhecermos o rosto. Os olhos. A boca. Esta sou eu. Quem sou? Nada do que a imagem reflete, tudo o que ela guarda. Imagino que seja isso que um alcóolico sente, quando vai a uma reunião dos AA e pela primeira vez se apresenta. Fulano de tal. O nome não chega. O nome seguido daquela frase. Sou um alcóolico. Apenas uma afirmação. Sou. Alcóolico. Sou dependente do álcool. Tenho um problema. Preciso de ajuda. Só.
Às vezes é o que fica por dizer. A maré imensa que sobe e nos afoga a garganta na enxurrada de lágrimas. Às vezes é o sol que nos bate nos olhos e seca essa fonte. Às vezes é a mão que se estende e o lenço para enxugar as lágrimas. E o olhar que se evita por pudor. O olhar onde se lê o que não se diz. Apenas. Um gesto.
Este gesto.
(Para a Cláudia, ela sabe porquê.)
1 comentário:
Primeiro por e-mail, e agora por aqui: és tão grande, tão forte, Gabriela! Um beijinho.
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