domingo, abril 18, 2010

Luz do sol

Acordar depois do meio dia. Meio dia já passou e você dormindo, colada nos sonhos, os mesmos que ainda repousam, em restos, agarrados às pálpebras quase fechadas, ramelas peganhentas que se desfazem ao som da luz do sol. Há uma música que o Caetano canta e que começa assim. Luz do Sol... Meio dia já passou e o sonho ainda te ensombra a janela ensolarada e o dia de (quase) verão lá fora. Só de olhar, porque se sair o frio ainda arrepia a direito. O frio é o que de mais parecido há com a morte. Não a morte verdadeira, obviamente; aquela que nos visita nos sonhos. Havia aquela angústia que já é quase uma companheira, havia um velho fantasma que perdeu quase todos os dentes e que antes mordia o interior de um corpo. Um corpo estranho, como só um corpo maltratado consegue se tornar, a cada pancada, a cada nódoa negra, a cada cicatriz, a cada carícia. Uma receita de um veneno infalível, uma seringa pronta a entrar na veia. Uma língua afiada ansiando pelo seu sangue. O bafo do predador no pescoço. Olhar e ver que é apenas um gato faminto, esquelético, o pêlo ralo a deixar em branco antigas cicatrizes. Também ele, coberto delas. Compreender agora o porquê daquela angústia toda, sempre, desde idades remotas, o nascimento das primeiras galáxias, a expansão do cosmos, a fúria carnívora dos buracos negros. Compreender finalmente e sentir-me ainda mais burra. Querer colher a Luz do Sol com as mãos e ficar ardendo, dentro dela, até esquecer tudo de novo. Até que tudo se esqueça de mim.

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