Escreveu aquela frase com a sua letra redonda e hesitante:
Não gosto de ser tratada como uma criança.
A psicóloga educacional (naquela altura chamava-se orientadora escolar) leu a frase e abriu uns olhos muito redondos de espanto. Perguntou-lhe, incrédula, depois do que lhe pareceu um esforço considerável para encontrar a voz, o que queria dizer com aquilo.
Encolheu os ombros. Não sabia.
Que não gosto de ser tratada como uma criança, respondeu, baixando os olhos, envergonhada.
A psicóloga insistiu. Que explicasse o que era isso de ser tratada como uma criança.
Ela não tinha palavras para explicar.
Hoje ri-se desta lembrança. E sabe exatamente o que queria dizer.
Não gostava de ser tratada como alguém pequeno, sem importância nenhuma, sem direito a nada.
Era isso que ser criança significava no seu dicionário, o dicionário de uma vida de 13 anos.
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