domingo, julho 18, 2010

Confiança

Os girassóis estão a florir. Não se pode dizer que sejam gigantes.
O jardim está infestado de ervas daninhas. Não me incomodam.
É tempo de me reconciliar com o corpo. Com a casa. Com o caos.
Com o silêncio. Ou a ausência de palavras.
Não são a mesma coisa.
A ausência de sons, isso sim, é um silêncio pesado.
A ausência de palavras é apenas uma janela aberta para uma paisagem infinita.
Os meus filhos brigam. Dizem palavrões atrás uns dos outros. O mais novo chora. O mais velho goza com ele. O mais novo fica magoado. O mais velho tem aquela superioridade que a indiferença costuma proporcionar a quem se convence que nada o pode tocar.
É uma linguagem própria, de irmãos. Uma linguagem feita de encontrões, de gritos e de raivas.
Uma linguagem que dispensa palavras e demasiadas explicações e excusadas teorias.
Muito menos desculpas.
Às vezes dou por mim a tentar introduzir a palavra, a lógica dos afectos, a razão dos sentimentos, e o resultado é o oposto ao esperado. A raiva e os gritos aumentam.
Outras vezes estancam por si e quando dou por mim já estão em animada cavaqueira. As gargalhadas diluem a raiva.
Ser mãe às vezes é interferir, outras, saber esperar.
Saber ficar calada. Confiar no silêncio. Incorporar o caos como uma coisa ordenada.
A nossa mania da ordem suplantada pela certeza de que nada está, nem nunca estará, no lugar certo.
O lugar certo de hoje é o errado de amanhã.
E, acima de tudo, confiar. Confiar em nós, confiar neles e em tudo o que lhes demos.
Dar implica despojar, deixar que algo deixe de ser nosso.
Deixar, apenas.

2 comentários:

Anónimo disse...

É esse o segredo. O resto virá por si.
Adoro os teus escritos e , não raras vezes, tenho um domingo de manhã de lágrimas e olhos inchados. Mas, mesmo assim , gosto muito!

Anónimo disse...

Sou a Guida! Deixei o comentário anterior!