segunda-feira, agosto 30, 2010

Cats and dogs

Acordar com o gosto de pequenos pesadelos na boca. Sonhos confusos onde se misturam estações de comboios e a angústia de perder os meus filhos. Como nos filmes; porém, sem o sentido do guião, apenas o do medo. Acordar e ver que o dia está molhado de nuvens por onde espreitam alguns raios de sol. Pensar que é tempo de mudanças. Talvez daí nasçam os sonhos. As mudanças trazem o medo mascarado de excitação. Quando saímos estava um vento teimoso e o sol assomava, tímido, em pinceladas luminosas no meio do cinzento pardacento das nuvens. Apanhámos o autocarro e fizémos o percurso até à nova escola. Sem percalços e muito animados. Nesta altura os restos oníricos já só eram isso mesmo: restos. Insignificâncias. Sabia, no entanto, que era a luz do dia que os apagava; que é na noite que os fantasmas acendem sombras sinistras. Estava eu, pois, a adorar o sol e cai uma chuvada. Daquelas chuvadas que são raras aqui, chove muito mas geralmente são aquelas chuvinhas molha parvos, que fingem que molham, ou que não molham por aí além. E nós, na paragem do autocarro, sem sítio para nos abrigar, eu com um guarda-chuva ridículo e sem casaco, os gaiatos, vá lá, com as gabardines que se não havia de ter sido bonito. Dez minutos ali a ensopar, quando o autocarro chegou já só me apetecia gritar. Ainda nos rimos, mas foi. E pode ser que esta noite sonhe com temporais, ou coisa que o valha. Venha a enxurrada, que eu, na água, sinto-me em casa.

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