No fim ela pegou na caneta e escreveu. Inventou um final para a sua história. Ou talvez não fosse um final, apenas mais um capítulo. E, nesse gesto, igualou-se a Deus. Não um Deus todo-poderoso, arrogante na sua omnipresença, mas um Deus amargurado, desgostoso, impressionado. Um Deus tentando a todo o custo colher a flor no meio dos espinhos. Pincelando energicamente a realidade com tintas vivas e traços surrealistas. Um Deus descontente que vai até à última gota do frasco, apesar do travo amargo. Um Deus que não se conforma. Um rebelde. Afinal, para que criamos os Deuses, se não for para nos acompanhar nos caminhos mais tortuosos da vida?
(Como uma menina teimosa que, acabando de ouvir uma estória, e porque não gostasse do desfecho, arranjasse outro. Obstinada em mudar os factos. Em inventar outra vida. Poder carregar num botão e andar para trás com o tempo. Ser ela, Deus. Ao menos assim o seu poder não seria tão assustador.)
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