quinta-feira, outubro 28, 2010
Perversão ao tempo
O ponteiro dos segundos, preguiçoso, começou a hesitar. Parecia atrapalhar-se com os próprios passos, perder o equilíbrio. Nos primeiros trinta segundos, a descer, ainda a coisa ia; depois é que eram elas. Ficava ali, teimoso, a querer avançar, mas alguma coisa, alguma irreverência, o puxava para trás. E recuava. Dois, três passos para trás, outros tantos para a frente; poucos, daí a nada estava outra vez naquele saltitar inconstante, sem saber se vai se fica. Resultado: as horas alargaram. Cabiam lá dentro mais minutos que o estipulado. O tempo parecia brincar com o tempo. Como se descobrisse, incrédulo, um novo propósito, que não o de passar, andar para a frente.
Uns dias depois o relógio, finalmente, parou. Tinha-se acabado o tempo das incertezas.
Este incidente fez-me lembrar do filme belíssimo intitulado "The curious case of Benjamim Button". Nele também há um relógio que perverte a lei do tempo. Com consequências tão imprevisíveis quanto fantásticas. E assistimos assim à viagem deste homem em sentido contrário, incrédulos e emicionados, ao revermo-nos em tantas verdades simples e dúvidas existenciais, no fundo iguaizinhas às dos comuns dos mortais. E mais nos convencemos de que ele, o tempo, é um mistério sem remédio.
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