terça-feira, dezembro 14, 2010

Cala-te 4

E se por acaso, por um momento que seja, te passar pela cabeça mencionar as águas lodosas onde enterraste aquele cadáver, um dia; o cadáver dos teus sonhos despojados, do teu corpo mutilado, do teu futuro hipotecado; se por um maldito segundo ousares sequer pensar em desenterrá-lo, a ele e ao cheiro; o cadáver de uma boneca que nem de trapos, nem os trapos poderiam alguma vez resgatá-la à solidão; o cadáver de tudo o que poderias ter sido e abandonaste ao beijo do enxofre; se alguma vez, dizia, tal te passar pela cabeça, é melhor que te enterres com ele, o teu cadáver, e que apodreças de uma vez para sempre no fundo do pântano.

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