A felicidade é um pouco como a liberdade: ninguém sabe muito bem descrevê-la até ao momento em que a perde. Quem nunca esteve preso não sabe verdadeiramente o bem precioso que é a liberdade. Não é preciso estar preso fisicamente, encerrado numa cela; a prisão pode ser mental, não deixando por isso de ser menos nefasta. Um bom exemplo é a censura. Quando se fala disto, de falta de liberdade e de censura, as pessoas pensam logo em ditadura, opressão, prisões políticas, tempo da outra senhora, fascismo, uma data de coisas reais e muito próximas no tempo. Penso, no entanto, que a pior censura é aquela que está dentro da própria pessoa, e não a que é imposta a partir do exterior. Pior, porém, apenas quando atinge proporções patológicas, porque a auto-censura é necessária ao bom funcionamento individual e social.
Também ninguém sabe muito bem o que é a felicidade, mas garanto que aqueles que não sabem ou não conseguem ser felizes saberão do que falo. A felicidade, ao contrário do que se imagina, não é nada de gransioso. Tem a ver com coisas muito simples e muito pequenas, até. Muita gente confunde felicidade com alegria, contrapondo-a à tristeza. Nada mais errado. O contrário da tristeza é de facto a alegria, mas não a felicidade. Pode ser-se muito feliz estando triste. A tristeza e a alegria são emoções, enquanto a felicidade tem mais a ver com um estado de espírito, algo que nos anima por dentro - ou não. A felicidade é um pouco como o ar que nos entra nos pulmões - sem sabor, sem cheiro, sem cor, a gente não dá por ele, até ao momento em que nos falta e não conseguimos respirar. Aí a gente ganha consciência da sua presença, da sua importância e do bem estar que a respiração acarreta. Assim é a felicidade, esse oxigénio invisível que nos alimenta o sentirmo-nos bem na própria pele.
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