Afinal, o que é a distância? O que é estar longe, o que é estar perto? A distância mede-se em quilómetros, ou em silêncios? A distância afasta-nos, ou aproxima-nos? Eu diria que para ser precisamos de nos distanciar. A proximidade excessiva não nos permite diferenciar. Acabamos por ser uma amálgama. Definição exige limites, e limites pressupõem espaços diferentes. Espaço para respirar.
Porque vim para tão longe dos meus? De que fujo? Se é que fujo de alguma coisa. Talvez tenha precisado desta distância para poder olhar melhor à minha volta. Encarar-me e encarar o mundo de outra perspectiva. A distância pode tornar as coisas mais claras. Revela-nos outros ângulos, dimensões que desconhecíamos até então. Introduz discernimento. Enriquece a percepção. No entanto, não procuro iludir-me. Não foi por nenhuma destas razões, todas muito sensatas e inteligentes, que me afastei. Na verdade, limitei-me a seguir um impulso que não sei bem de onde nasceu. Já não sei se foi apenas a mágoa, a dor, a vontade de morrer. Como disse, a distância traz discernimento (traz uma outra luz), e, vistos daqui, os motivos desta decisão tornam-se outros, mais nítidos e mais verdadeiros. O desejo de morrer tem muito em comum com o desejo de renascer. Acaba-se algo para começar outra coisa. Aliás, sem acabar uma não se começa outra. Morremos todos os dias, e partes de nós ficam para sempre enterradas pelo caminho. A dor é necessária a este processo, pois ninguém se despede de uma parte de si impunemente. Foi para nascer, então, que decidi partir, embora na altura me quisesse convencer de que só me restava morrer. Percebo, finalmente, que não fugi de mais ninguém para além de mim. Não se pode fugir eternamente. Chega a hora de, finalmente, olhar para trás.
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