segunda-feira, janeiro 10, 2011

My fake baby

Por preços que variam entre as 80 e as 300 libras, mas que podem ascender aos milhares, pode adquirir-se uma imitação perfeita de um bebé, cuja semelhança seria admirável se não fosse macabra, pois os bonecos parecem mesmo bebés verdadeiros, a textura e a cor da pele é demasiado realista, os sinais, as pregas debaixo do queixo, o próprio queixo, a boquinha, o nariz, o cabelo, as mãos e os pés, tudo, tudo tão realista que só falta mesmo mexerem, chorarem e babarem... Só que este toque de realismo, perfeições à parte, é sinistro, porque as criaturas parecem bebés mortos. E então as mães, ou seja, as pessoas que compram tais coisas, esmeram-se e vestem os bonecos como se de verdadeiras crias se tratassem, põem-lhes fraldas, sapatinhos, roupinhas rendadas e com folhinhos, gorros e mantinhas para o frio, passeiam-nas em carrinhos de bebé pela rua, chegam ao cúmulo de os transportarem em cadeirinhas auto, não vão ficar mutilados no evento de um acidente rodoviário... As pessoas que compram estas preciosidades são mulheres que, por um motivo ou outro, não podem ter um bebé verdadeiro, e então optam por um substituto. Para algumas delas esta é, aliás, o ideal de maternidade: imaginem, as crianças portam-se sempre bem, não gritam nem dão trabalho nenhum, nunca se sujam, as roupinhas nunca deixam de servir, são tão perfeitinhos que parecem mesmo bebés, não fosse pelo pormenor de não se mexerem de todo, como comenta uma das mães, com um sorriso nos lábios, como se fizesse notar um pequeno defeito de nascença no seu recém nascido, uma coisinha pouca, um pormenor banal que, apesar de ser um bocadinho fora do esperado, não é de todo importante. A fulana que fabrica estes bonecos, na Grã-Bretanha, acrescenta que é estupendo poder ser mãe por tempo indeterminado, pois como as suas crianças (as verdadeiras note-se) entretanto cresceram, as pessoas já não lhe dão aquela atenção que uma mulher passeando um bebé na rua suscita. Mas não se pense que são apenas mães frustradas e perturbadas: havia o caso de uma avó, que cuidara do neto enquanto a sua filha estivera doente, e que se vira separada dele quando, ao recuperar, a filha resolveu emigrar para a Nova Zelândia. Resolveu então adquirir um destes bonecos para, digamos assim, matar saudades do que é ter uma criança por perto... Uma coisa um bocado difícil, digo eu, na medida em que um boneco não é de todo uma criança. O marido desta mulher, uma pessoa normal, responde que não, quando ela lhe mostra o "bebé" acabado de chegar da loja e lhe pergunta se gostou. Com esta resposta, a mulher vai às lágrimas. Depois há outro caso, o de uma destas bonecas que foi entregue com defeito, e então assistimos ao desapontamento da "mãe" que, depois de dois dias passados a formar um laço afectivo com a "criança", tem de a devolver, pois um bebé com defeito, ainda que completamente inanimado, não faz parte dos seus planos. A única situação normal que me foi dado ver foi a de uma família com crianças que resolveu acrescentar mais um membro ao clã, e então viam-se os miúdos a brincar com partes do corpo da "criança", uma perna, um braço, que entretanto fora toda desmembrada.

(cliquem no link do título)

1 comentário:

José Palmeiro disse...

Papu, se o que li, viesse de outra procedência, dizia que era ficção mas, pelos vistos é bem real.
Que sociedade é esta em que andamos a vogar?
Tal como tu, não consigo entender, apesar das evidências da demência que toda esta história encerra.
Mais uma vez e não me canso, gostei muito do teu "escrito".