quarta-feira, fevereiro 09, 2011
Chalada. Mas também podia ser chalaça
Sim, é verdade, rendi-me ao chá; não há dia em que não beba, pelo menos, uma caneca. Geralmente fico-me por aí, mas posso ir mais longe. Só não consigo bebê-lo a escaldar, ponho sempre um pouco de água fria. Quanto ao leite, tenham lá paciência, mas só de pensar nisso sinto o estômago às voltas. Quando bebia café lembro-me de gostar muito de deitar um pouquito de leite (um café pingado era o meu fraquinho), mas no chá, quem é que se foi lembrar de tal coisa? Enfim, não me consigo render inteiramente às práticas tradicionais locais, é o que é. Quanto ao resto, está lá tudo, até o hábito de pôr o saquinho na caneca. É que se não for assim não sabe ao mesmo. Quando vou a Portugal este hábito parece-me, então, absurdamente esbanjador, e dou por mim a deitar água para um bule e a perguntar a alguém se por acaso não lhe apetece um chazinho. Mesmo que não encontre quem me acompanhe, sou capaz de preparar mais só para se, mais tarde, me apetecer. Quando estou aqui, é um reflexo automático: pôr a água a aquecer, abrir o pacote do chá e retirar um saco, pôr na caneca e encher com água. Tão automático que nem me passa pela cabeça fazer outra coisa. É assim que toda a gente faz. Podemos tentar convencer-nos, neste e noutros aspectos da nossa vida, de que o que fazemos não tem nada a ver com o facto de isso ser ou não a prática comum. Podemos até estar convencidos disso. Só até ao momento em que nos confrontamos com uma simples constatação como esta, que, sendo tão simples, vem deitar por terra uma ideia feita. E depois ficamos a pensar em como raio é que a partir de um pacotinho de chá chegámos a isto.
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