sábado, agosto 18, 2012

Distâncias

Nem todas as distâncias se medem em quilómetros. A distância que nos separa dos outros, por exemplo, mede-se em silêncios. Cada vez que não dizemos algo que queríamos dizer, afastamo-nos daquela pessoa. Há sempre uma distância que é normal, e até desejável, porque mesmo nas relações mais íntimas, nunca dizemos tudo, nunca nos damos completamente. Há coisas só nossas que não dizemos, nem queremos dizer, a ninguém. Para lá dessa distância que, no fundo, são os nossos próprios limites, existem depois as outras. Os silêncios que mantemos, as palavras que calamos, os sentimentos que abafamos. São as coisas não ditas que nos afastam dos outros - e afastam porque, de cada vez que calamos uma palavra, de cada vez que escolhemos não dizer o que queríamos dizer, escolhemos fechar a porta, isolarmo-nos do mundo, recolher ao nosso casulo. E, consequentemente, também não nos damos a conhecer. É isso que se chama afastamento emocional. Por isso, podemos estar longe de alguém, a quilómetros de distância, e continuar perto, muito perto. Podemos estar sozinhos e sentir-nos acompanhados. Ao passo que podemos viver anos e anos com as mesmas pessoas, na mesma casa, em total isolamento. Cada um a séculos de distância dos outros. Por fora somos uma família igual a todas as outras - por dentro somos ilhas desertas com todo um oceano cego, surdo e mudo a separar-nos.

1 comentário:

João A. Quadrado disse...



Papu,

com a sua permissão vou copiar o texto e distribuir a muitos de que me rodeiam e não escutam, não sabem, não vêem a sombra que está no lugar onde deveria estar um corpo e uma alma: alguém!

Tão grato me sinto!

Um imenso abraço,

Leonardo B.