quarta-feira, março 12, 2014

Quem não sabe, inventa

Há uns anos atrás, o rapaz queixava-se de falta de imaginação. Eu não consigo fazer desenhos daqueles, terá dito, depois de ver os trabalhos de arte de outros alunos, preciso de ir buscar ideias a qualquer lado; não consigo imaginar coisas assim. Nessa altura, a mãe encolheu os ombros e fez uma nota mental para uma eventual estória. Não perde a mania de ver estórias em todo o lado. Ora, há coisa de um mês, o professor de história gracejava com a aparente falta de objectividade encontrada em alguns trabalhos do mesmo rapaz, onde ideias suas eram apresentadas para colmatar aqui e ali falhas de evidência histórica. Entre sorrisos, o professor lá deu uma pequena lição sobre a necessidade de a História se apoiar em factos objectivos, e não em ideias subjectivas. Ao que a mãe se lembrou da primeira nota, e desta vez acrescentou outra: afinal, nem tudo está perdido.

(E agora, ao escrever isto, faz outra, do papel que a imaginação desempenha, tanto na vida dos indivíduos, e não apenas na criação artística, mas principalmente na construção do conhecimento histórico e científico. A famigerada objectividade que, em rigor, nunca se alcança. E no modo como a ficção é, acima de tudo, um produto do desconhecimento. E de como, quando o desconhecimento se agudiza na ignorância, a ficção colectiva pode cristalizar em formas malignas: dogmas, verdades absolutas, poderes inquestionáveis. Episódios psicóticos dominando toda uma população, época ou nação.)

1 comentário:

medusa disse...

Já li amei!!!!

Parabéns fico a aguardar ansiosamente o próximo... :)

EG