Eu não tenho problemas com o facto de dizerem que estou desempregada. E também não é a associação entre o estatuto de desempregada e a imagem de coitadinha, ou coisa parecida, que me desagrada. O que eu profundamente repudio é o aproveitamento que se faz em torno do facto de uma desempregada ganhar um prémio, para mostrar que o desemprego pode ser uma excelente oportunidade, para fazer sentir aos outros desempregados que só estão nessa situação porque não se mexem, porque não são empreendedores, porque passam demasiado tempo ligados às redes sociais a fingir uma vida que não têm, o diabo a quatro. É este discurso que é profundamente ofensivo e completamente inaceitável, com o qual não quero compactuar. Para que conste, eu saí do meu país há quase 10 anos porque nele não encontrei oportunidade de trabalho. Trabalhei durante 3 anos num hospital público com o estatuto de estagiária, sem remuneração, e como eu dezenas de colegas, que só assim encontraram oportunidade de continuar a sua aprendizagem e prática profissionais. Trabalhei como formadora profissional sem direito a contrato de trabalho, porque isso era prática corrente no mercado (desconheço se ainda é assim, mas aposto que sim). Se vivo em Inglaterra há 10 anos com o estatuto de desempregada, é porque aqui é perfeitamente possível um agregado familiar sobreviver apenas com um dos membros a trabalhar. Aqui o estado desempenha um papel social importante no apoio às famílias com baixo rendimento. E sim, o estado tem obrigação de ser um estado social. Se não para que é que serve? Afinal de contas de onde vem o dinheiro do estado? Os cofres do estado estão cheios das contribuições de milhões de pessoas que todos os dias se levantam para trabalhar; porque raio é que esse dinheiro não há-de ser utilizado em proveito desses mesmos trabalhadores? Acho muita graça a essas teorias de que o estado não pode ser o nosso paizinho, e que andamos todos a mamar no estado; o estado não é nosso pai nem mãe, o estado somos nós, é o nosso dinheiro, o que saiu do nosso trabalho; qual mama qual carapuça. Quem mama no estado são os Bancos que, em chegando à bancarrota, vêem os seus cofres de novo magicamente cheios com dinheiro vindo dos bolsos dos contribuintes. Quem mama no estado são as grandes empresas, mais os conluios que com este mantêm, e na forma descarada e continuada com que fogem ao fisco.
Estou cansada de tanta demagogia.
4 comentários:
Bolas, Papu, não me digas que agora te andam a chatear com essas tretas... esquece, é o preço da fama! Sente orgulho no teu prémio e no teu livro e ignora o resto! Bjs
Sim, quem sente; quem usa as duas partes do cérebro não pode senão estar cansado com toda esta prosápia! É demagogia sim!, ao serviço do neoliberalismo mais radical. Contribuições, impostos - diretos e indiretos; derramas, taxas várias, coimas, multas... alimento dos cofres do Estado. De onde provêm? De todos nós, claro. Mesmo dos subvencionados. Todos pagam ao Estado quando adquirem algo. Bem, a culpa, pois culpa!, nem é do Estado, é do Governo do Estado, cujo desígnio parece esquecer que em Sociedade todos somos Sócios! Parabéns pelo prémio, senhora Escritora. Continue, para bem de todos!
É isso mesmo. Aplaudo com todas as mãos que tenho, e são só duas, poucas para transmitir o meu total apoio. E gosto de te ver desempoerada e cheia de genica, depois de uma semana tão puxada.
Também muito gostei da tua prestação no "Bairro Alto", gosto do programa, o J. Fialho Gouveia estrutura muito bem o seu diálogo/entrevista e tu estiveste muito bem. Foi uma semana em cheio.
Beijinhos,
tio João
Muito bem. Coragem, lucidez e chamar os bois pelos nomes. Forte abraço e continue a escrever tão bem como o livro de que foi justa merecedora de um prémio. Almerinda
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