quinta-feira, junho 30, 2005

CHUVA E TRÂNSITO

Lá fora recomeçou a chover, assim aquela chuva miudinha de verão, que não molha mas mói... Mas que coisa, estamos quase em Julho, ó verão, faça lá o favor de aparecer, raios! Pois é, sempre é verdade que aqui o tempo é completamente imprevisível. Temos sol a seguir a nuvens carregadas, trovoadas, e novamente o sol, e novamente as nuvens, e dias cinzentos, cinzentos, cinzentos. Nunca tinha visto tantos cambiantes de cinzento. A saber: um cinzento carregado, quase negro, um cinzento zangado, eléctrico, áspero, de trovoada, um cinzento assim nem carne nem peixe, um cinzento suave, leve, com alguns farrapos brancos a espreitar, um cinzento assim indigesto, volumoso, a encandear os olhos e a fazer transpirar os poros, cinzento quase quase azul, cinzento branco maravilha luminoso a adivinhar sol e no ar aquela aragem fresca da manhã...

Bem, resta sempre a consolação de que ao menos não estamos a morrer de calor...
Mas vejam lá, tenho saudades do calor! Daquele calor daí, que nos abraça por todos os lados do corpo, que nos faz transpirar só de mexermos um dedo, que nos deixa incapazes de levantar do sofá.

(não, é mentira, não tenho saudades nenhumas desse calorão, sempre me dei mal com ele, do que tenho saudades é da luz do sol e de sentir calor, sim, mas sem grandes excessos! É que aqui os dias de sol são tão raros...)

O sol deixa o pessoal daqui passado da cabeça, a sério. Primeiro começam por tirar quase todas as peças de roupa, e deixar mesmo só as indispensáveis para não chocar olhares mais púdicos! E aí vai tudo para o parque, sentados e deitados no chão como se estivessem na praia. Só falta mesmo o mar e a areia! E vê-se todo o tipo de gente: crianças, velhos, novos, pessoas de todas as cores, de todas as idades, fazem pick nicks, bebem garrafas de cerveja, estendem-se na relva, enquanto as crianças correm, jogam à bola, e pares de namorados passeiam de mãos dadas. Aqui quando o sol brilha ninguém fica em casa!

E o trânsito? Bem, conduz-se com mais calma, não há dúvida. As pessoas não stressam tanto ao volante, em regra. E cumprem-se mais os limites de velocidade, sim, mas isto é dentro das localidades. Nas auto-estradas nem por isso. Aliás, as auto-estradas em que já andei são autênticos mares de trânsito! Não se cumprem limites de velocidade nem distâncias de segurança, o que é um pouco aflitivo! Sinceramente não sei como não há mais taxas de acidentes!

Nada a que não estejamos mais que habituados aí, claro! Mas para terem uma ideia, a M25, que circunda toda a Londres, é uma espécie de IC19 com 3 faixas e com o dobro ou o triplo do tráfego! Talvez não se vejam tantas manobras perigosas, mas mudanças de faixa em cima do carro de trás e distâncias de segurança nicles, é o pão nosso de cada minuto!

E depois há as câmaras, espalhadas por toda a cidade, que flasham um gajo que vá fora dos limites de velocidade. Quem é flashado passado uns dias recebe uma cartinha em casa onde vem uma multa para pagar, e consoante a gravidade do excesso de velocidade, leva uns tantos pontos na carta – ao fim de 12 pontos fica-se sem carta durante algum tempo (isto claro se a pessoa tiver carta inglesa). Mas o pessoal já sabe onde estão as câmaras... e é vê-los a abrandar nesses locais. Quando não há câmaras, o pessoal acelera mesmo.

Nas localidades o pessoal tem mais calma. E também como é que não havia de ter? Imaginem o cenário: rua estreita, carros estacionados à direita e à esquerda. Resultado: só há espaço para passar um carro. E quando vem lá outro em sentido contrário? É assim: ora agora passas tu, ora agora passo eu, ora chega para lá, ora agora passa lá (isto é para ser cantado com a música: indo eu indo eu a caminho de viseu...)
Não há como não ter muita calma!

Mas ao mesmo tempo é engraçado: é que se gera uma cumplicidade entre condutores através de gestos, sorrisos, acenos com a mão, sinais de luzes, enfim, estamos em constante comunicação e troca de mensagens com todas as pessoas com quem nos cruzamos, assim tipo quando andamos a pé no nosso bairro e vamos dizendo: Bom dia, minha senhora, adeus, menina, está bom, senhor? Obrigado, até à vista, que simpático, para si também...

É claro que há sempre aquelas bestas que não respeitam regras nenhumas, que não dão prioridade a entrarem nas rotundas, que se for preciso vêm para cima de nós quando não há espaço para dois carros, mesmo que sejam eles a vir em contra-mão, enfim, o protótipo do péssimo condutor. E esses encontram-se mesmo em todos os países do mundo.

1 comentário:

papu disse...

É mesmo assim, não podias ter descrito melhor...

E viva o sol! :)