sábado, junho 25, 2005

MY DARLING

Há um hábito inglês que acho engraçado, mesmo ternurento, e que contraria aquela ideia feita de que os ingleses são um povo frio no contacto humano. É que toda a gente se chama de querido sem se conhecer de lado nenhum. É perfeitamente normal utilizar o “dear” num contexto formal, por exemplo naquelas cartas em que aí apenas nos atrevemos a utilizar o V. Exa para aqui e o Exmo. Sr. para ali... Mas as coisas não ficam por aqui! Quando o carteiro nos vem trazer uma encomenda registada, e se despede com um “see you, sweetheart”, não, não está a gozar connosco. E se a senhora do centro de saúde nos brinda com um “my darling” no meio da rápida conversa que medeia encontrar o nosso registo no computador não, também não está a atirar-se a nós, caso sejamos do sexo masculino... É que aqui toda a gente se trata assim, é normal, normalíssimo! E é engraçadíssimo! Ao princípio estranhei, não há dúvida, até pensei que não tinha percebido bem... My dear? Ele disse my dear?, pensei, enquanto falava ao telefone com um funcionário qualquer da British Gas, por causa de um problema que tivémos aqui em casa. Imaginem o que é telefonarem para a Portugal Telecom ou para a EDP e de lá dizerem, “Oh, doçura, obrigado por ter esperado!” Ou irem a uma loja qualquer e o empregado ou a empregada dizer: “Obrigado, querida, volte sempre!” “Oh, fofura, aqui está o seu pedido, desculpe a demora!”
Terei batido com a cabeça? Pensariam com certeza.
Não, queridos, não bateram, aqui é mesmo assim. E até já acho uma ternura, a sério. Ser chamada de dear ou my darling por pessoas de todas as idades que não conhecemos de lado nenhum é estranho, ao princípio, mas depressa nos habituamos e aprendemos a apreciar esse modo caloroso de saudar alguém desconhecido!

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