quarta-feira, junho 22, 2005

O DIA E A NOITE

Quando cheguei a este país, como já disse, mal se via o sol. O dia escoava-se em menos de 8 horas: amanhecia por volta das 7:30, e às 3 da tarde começava a escurecer, sendo que por volta das 4.30, 5, já era de noite. A noite parecia não ter fim e o dia fugia-nos à frente, tentávamos em vão agarrar as poucas horas de luz mas elas iam sempre uns bons passos à nossa frente.
Aos poucos, uma pessoa habitua-se... até que, lentamente, as coisas vão mudando de figura...
E aqui estamos, em pleno Junho, com um cenário completamente ao contrário. Agora é o dia que é interminável, a luz parece que nunca se apaga. Queremos deitar os miúdos às 9.30 e lá fora ainda está tanta claridade que ninguém pode ter sono assim. Ainda por cima aqui as casas não têm estores, por isso não podemos recorrer a esse truque de deixar o quarto mergulhado na escuridão para assim convidar o João Pestana a entrar. Qual quê! Só por volta das 10 é que começa a escurecer, e até ser noite cerrada ainda falta uma hora, pelo menos. Ou melhor, cerrada é um adjectivo que aqui dificilmente se apega à noite, no verão. Porque mesmo à meia noite, quando o céu está escuro e brilham as estrelas, a gente consegue ver com nitidez, tal e qual como dizem que acontece com os gatos, que vêem no escuro. É a sério, acreditem. Adquirimos poder de felinos.
E assim vão passando as horas... uma duas três quatro, quatro e meia... e lá começa o sol a nascer! Às quastro e meia da manhã? Não estás a exagerar? Não és tu que deixas a luz acesa e ficas confundida? Não, não estou confundida, é mesmo verdade! O sol nasce às quatro e meia da manhã! Ontem até acordei às 4 e já havia aquela auréola de luz no ar que antecede o nascer do dia! Sério! É de doidos! Confesso que quando cheguei sofri um bocado com aqueles dias tão curtos e com tanta escuridão, mas digo-vos que o oposto também não é mais agradável! É que parece que o corpo não consegue descansar como deve ser. A luz entranha-se por todo o lado e por mais que os olhos fechem e que a gente durma, o sono não é igual. Não sei explicar, mas é assim. O sono precisa de escuridão. O dia precisa da noite e a noite precisa do dia e nós precisamos de um e de outro em doses certas para podermos sentir-nos bem. Nunca tinha sentido isto assim tão na pele, mas é mesmo assim. E tenho dito.
(Lembram-se quando aqui há uns anos os nossos relógios mudaram a hora de uma forma completamente despropositada e ao contrário de tudo o que é natural e tinhamos o pôr do sol às 10 e tal da noite? É uma sensação semelhante, com a agravante de ver nascer o dia a horas completamente impróprias, quando o nosso corpo ainda está mergulhado para aí no segundo sono!).

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