terça-feira, julho 05, 2005

CENAS DO QUOTIDIANO

PARTE I
- David, sai de cima do sofá!
- David, sai de cima das cadeiras!
- David, pára de saltar do sofá para as cadeiras!
- Diogo, pára de dar saltos em cima da cadeira!

(quando estamos em casa é esta a lenga-lenga mor. Acho que eles pensam que estão no parque! E às vezes se calhar era melhor que estivessem!... Mas o dia não tem 48 horas e por mais que faça ainda não consigo ter tempo para tudo!
Ao fim de semana aspiro a casa de uma ponta à outra. Isto leva mais ou menos a manhã toda. Depois é tempo de fazer o almoço... comer, lavar a loiça... enfim...)

Mas às vezes deixo mesmo a casa em pantanas e subo com eles até ao cimo da rua, onde há relva que chegue para eles correrem e brincarem e também alguns parques infantis, onde eles podem gastar as energias à vontade.

De outras vezes vão até ao quintal ver os caracóis, brincar com as pedras, ou descobrir tesouros. A última brincadeira do David é assim: enterra um tesouro na terra (ou seja, uma pedrinha) e depois alguém tem de ir descobrir onde está.
É claro que o Diogo adorou a brincadeira... o que deu azo a algumas brigas:
- O bebé é mau! Não destrói o tesouro do Vidi!
E passado uns segundos aparece o Diogo em prantos:
- O Vidi nã dêxa o bebé bincá com o tijoulo!!!
Lá foi a mãe tentar servir de mediadora:
- Ó David, o Diogo não está a destruir! Ele gostou foi da brincadeira e quer brincar mais!
Mas o rapaz não se convence. E atira com o brinquedo do Diogo para o chão com força, o que faz com que por um triz não apanhe uma palmada. Mas ouve um berro, que o faz subir as escadas a chorar alto e bom som e a fechar-se no quarto.

Respiro fundo. Oiço o choro dele. Tento amenizar a coisa:
- Ó David, não vês que o mano só quer brincar contigo...
- Mas ele está só a estragar!!!
- Mas também não podes estragar-lhe os brinquedos, não achas?
- Mas ele também estava a estragar o meu tesouro!!!
(bem, vistas as coisas assim, talvez ele também tenha a sua razão... mas o que é que se faz quando os dois têm razão?)

Digo-lhe para ir brincar, mas ele não pára de chorar. Por fim, desço, pensando que talvez seja melhor deixá-lo chorar um pouco... e parece que sim, porque daí a alguns minutos ele desce, já mais bem disposto.

Às vezes o choro liberta a raiva momentânea, e pronto, passa. De outras vezes o choro é mais pesado, mais angustiado, e no meio das lágrimas adivinhamos uma súplica, assim como se eles nos chamassem porque não suportam sozinhos o peso daquela dor... aí nunca o deixo chorar muito tempo sozinho, lá vou eu escada acima, sento-me ao pé dele e faço-lhe festinhas na cabeça, dou-lhe beijinhos e umas palavras de consolo (pronto, querido, não chores, pronto...), que na maior parte das vezes são suficientes para o acalmar.

PARTE II
Não sei se já disse, mas o David já consegue ler muitas coisas. E o que ele mais gosta é de vir ler por cima do ombro de quem está ao computador:
- Olha, está ali David! David, sai de... céma? Isto é inglês?
- Achas?
- Céma?
- Cima!
- Ah! David sai de... cima... do sa...la... ai não, so...fá! Ei! David sai de cima do sofá? Eu nunca vou para cima do sofá! David... sai de cima... da... ca...dei...rra... Ei! O que é que estás para aí a escrever?

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