Foi um choque ver aquelas imagens na televisão. Acho que seria sempre um choque, em qualquer parte do mundo, mas estas estavam carregadas de outro significado, para mim. É que o cenário era estranhamente familiar. O autocarro vermelho que ficou despedaçado é igual a tantos outros com que me cruzo diariamente na rua. O seu interior descascado de bancos ainda azuis, que apareceu como uma ferida nas imagens, também é meu conhecido, pois já me sentei vezes sem conta em bancos iguais àqueles. As ruas cheias de marcas rodoviárias que já me habituei a decifrar só com um olhar. As casas e os muros de tijolo escuro, vermelho escuro, que aqui são a marca da traça típica dos edifícios. Tudo, tudo demasaido cru e real, de uma crueldade aterradora, devastadora. Apesar de longe dos acontecimentos, não pude deixar de sentir, de uma forma opressiva, que aquilo acontecera aqui, - ao lado, mas aqui. No mundo que já me é familiar.
A cidade parou, toda a gente parou, e ficámos presos àquelas imagens horríveis. Aos testemunhos daquelas pessoas que viveram de perto aquele inferno. E no ar fica a pergunta, sempre a mesma: como é possível? Como é possível que coisas destas aconteçam, que as pessoas se ataquem assim umas às outras, que seres humanos façam isto a outros seres humanos?
Porque acho que o terrorismo é isso: o ataque ao Homem pelo Homem, a violência mais terrível, a crueldade mais impiedosa. O terrorismo não tem nacionalidade nem cor da pele. O terrorismo está espalhado por todo o mundo, e actua através daqueles que se deixam levar pelo ódio e não têm lugar para a compaixão pela vida humana nos seus corações. É a vida humana que eles espezinham quando fazem ir pelos ares bombas, em nome de não sei que causas ou reivindicações. Nada justifica o atentado contra a vida humana, nada. E no coração daqueles que semeiam o terror e o ódio só há lugar para o terror e para o ódio.
Mas continuo angustiada, não só pelas imagens brutais da realidade, mas também por saber que muitas vezes o ódio gera outros ódios que facilmente se tornam incontroláveis, e que esses ódios tantas vezes arrastam a humanidade em outras escaladas de terror como resposta ao terrorismo. Não posso esquecer a Guerra no Iraque depois do 11 de Setembro. E todas as guerras que se fazem em nome do combate ao terrorismo, que são também elas actos de terrorismo. Aqui em Londres vivem comunidades de todos os cantos do mundo em perfeita relação de harmonia, tanto quanto me é dado ver. Vivem aqui Japoneses, Chineses, Indianos, Muçulmanos, Africanos, Sul Americanos, Europeus de todos os países, enfim, há uma multiplicidade de culturas que convivem diariamente, pacificamente, e espero que o panorama continue assim. Espero com todas as minhas forças, pois este cenário de convivência transcultural é, creio, a melhor arma apontada contra o terrorismo. E espero - sinceramente - que o medo e o ódio tantas vezes gerado por ele não levem a outros actos violentos contra minorias supostamente identificadas ao agressor. Porque isso é intensificar o terrorismo e ir a favor dele, perpetuando o ataque à vida humana em nome de valores ou causas obscuras.
2 comentários:
Apesar da consternação, é bom saber-te bem. Beijinho :)
Colhemos o que semeamos amiga, o terrorismo existe porque as nações invadem, atacam, exploram, humilham, e em prol de quê?
do poder.
Ainda bem que nada aconteceu perto de vocês
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