terça-feira, julho 19, 2005

SONHOS DE RISO

Os meus filhos começaram a rir mais ou menos pela mesma altura, entre o primeiro e o segundo mês de vida. Das duas vezes esse acontecimento ficou-me gravado na memória pela surpresa que provocou: é que eles riam à gargalhada durante o sono! Lembro-me nitidamente das primeiras vezes que isso aconteceu: no meio do sono, eles começavam a emitir uns ruídos um pouco estranhos... parecia que estavam a chorar, ou a soluçar... mas não, depois ouvia nitidamente, eram gargalhadas! E gargalhadas sonoras, com o riso a dobrar, e a barriga a estremecer!

Das duas vezes estes ataques de riso durante o sono antecederam bastante o tempo em que eles começaram a rir acordados. Aliás, quando começam a rir, os bebés fazem-no a princípio quase em silêncio, as gargalhadas só se tornam sonoras muito depois de eles já rirem há um tempo. Mas no sono dos meus bebés as gargalhadas eram risadas sonoras, audíveis, como quando eles já estão no pleno domínio do riso.

Das duas vezes me perguntei, o que será que faz rir um bebé desta maneira, enquanto dorme? Será que em sonhos a sua mente já é capaz de representar coisas que nunca viveu, uma vez que nessa altura eles ainda só esboçavam sorrisos, quando acordados? Talvez o sonho seja o território onde se esboçam todas as nossas emoções, antes de serem vividas na realidade. Talvez o sonho seja o continente onde surgem as primeiras experiências emocionais, ainda em estado embrionário. Ou talvez o sonho se antecipe à vida, e a realidade não seja mais que a concretização daquilo que, em sonho, já somos. E ficava pasmada, em silêncio, a ouvir as suas gargalhadas, como se estivessem a ver um filme cómico, e nem me atrevia a fazer nenhum ruído para não perturbar aquele milagre a que me era dado assistir.

Depois o acontecimento ia-se tornando banal, eles iam crescendo, chegava a altura em que começavam a rir também acordados e a surpresa inicial caía no esquecimento. Mas nunca a esqueci de todo, ficou cá guardada nalguma gaveta, e de vez em quando ainda me visita, e parece que ainda estou a ouvir o som daquelas gargalhadas a brilharem como estrelas na escuridão do quarto, vindas dos seus sonhos, ainda bebés.

2 comentários:

M disse...

:D Aconteceu exactamente o mesmo com as minhas cachopas. E era sempre seguido de uma gargalhada minha, abafada pela almofada, para elas não acordarem. Que coisa tão pura, não é?

papu disse...

Por acaso nunca tinha falado disto com ninguém, mas tinha cá a impressão que devia acontecer com todos os bebés!

Um dia ainda faço uma investigação sobre o assunto... era giro, não era?

:))