sábado, agosto 27, 2005

OUTONO ANUNCIADO

Quando entrei no avião não foi só de Portugal que me despedi, foi também do sol, do Verão, do calor. Aqui o frio já estendeu os braços e envolveu de humidade as casas, as árvores, as pessoas. Os relvados estão de novo verdes. Nas manhãs de nevoeiro e nas noites escuras o frio atravessa-nos o corpo até aos ossos num abraço gelado e obriga-nos a vestir meias, a pôr mais uma camisola, a procurar o quentinho debaixo do edredão. É verdade, aterrei no Outono, e tenho saudades do Verão. Lá fora, no quintal, o canteiro de terra onde os meus filhos brincavam é agora uma poça de lama. Também eles sentem saudades. De meter os dedos na terra. De fazer as camas para os caracóis dormirem. De soltarem gargalhadas na atmosfera cristalina do Verão. De deixarem os braços e as pernas soltos nas mangas curtas e nos calções. De esfolarem os joelhos e respirarem o ar às golfadas e sentirem o chão debaixo do corpo. De ficarem de súbito encandeados pela luz e pelo calor do sol durante uma gargalhada. De deixarem os pés respirarem o dia nos buracos das sandálias. De transpirarem por todos os poros em correrias loucas e sentir a brisa fresca como um conforto. Enfim, de tudo aquilo que só se pode sentir no verão.

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